Foram expressões como “corrosive and expressive guitar throughout”, “four-minute synthesizer solos”, “uncharacteristically uptempo and guitar-heavy”, “keyboard noodlings”, “churchy organ”, “slashing guitar work”, etc, constantes da resenha no “The Rough Guide to Pink Floyd” que me despertaram o interesse e me levaram ao disco Animals. O problema é que não há disco do Pink Floyd disponível por menos de 30 reais, então há tempo que estou vasculhando balaios e bocas do disco para encontrar algum por preço acessível. Bem, achei naquela Porto do Iguatemi por um preço menos salgado esse Animals (além de outros dois, Meddle e Obscured by Clouds) e descobri um excelente disco. E estou ouvindo quase diariamente há duas semanas.
Ainda de acordo com o livro, o ponto de partida foram duas jams da turnê de 1974, conhecidas como Gotta Be Crazy e Raving and Drooling, que ganharam forma quando Roger Waters teve a idéia de escrever as letras (e o conceito do disco) sobre o livro “A Revolução dos Bichos” de George Orwell. Assim, a primeira virou Dogs, sobre os capitalistas/burgueses, e a segunda Sheep, sobre o povo inculto; agregou-se uma outra faixa, Pigs (Three Diferent Ones), sobre os políticos. Pouco antes de serem finalizadas as gravações, Waters incluiu uma faixa acústica, Pigs on the Wing, que eventualmente foi dividida em duas partes para introduzir e encerrar o álbum. A adição dessas Pigs on the Wing, dentre outras questões como supressão de solos de guitarra, foi motivo de discussões, notadamente entre Waters e Gilmour, vez que os direitos autorais foram distribuídos por faixa e não por participação; assim, por mais que a única contribuição de Gilmour (Dogs) ocupe quase metade do disco, Waters é quem levou a maior parte da bolada, por ter composto o maior número de faixas (todas as 5).
Pessoalmente, o que me vem à cabeça é que se trata de um disco divertido de ouvir, pois tem muito das coisas que são legais como sintetizadores, umas guitarras bem Stratocaster com uns temas bons e solos estilo Gilmour, e, sobretudo, alguma direção nas composições. Afinal, as músicas são em regra longas, mas diferentemente de Echoes, do disco Meddle, que tem 23min e nos quais grande parte é apenas a banda fazendo jam, em Dogs, Pigs (...) e Sheep há mais espaço para partes variadas, que dão conformidade à música, sem parecer uma jam repetitiva. Então, se as três faixas principais são muito boas, e as duas secundárias (porque acústicas, só voz e violão, com menos de 2min cada) não têm nada mal, de fato não há o que não gostar em Animals.
Dogs tem uma “breezily intricate chord sequence – simultaneously jazzy and folky (...)”; a letra parece boa, e bem interpretada por Gilmour (pelo menos na metade, pois mais adiante Waters assume o vocal, e canta o resto todo do disco). É uma baita música, tanto em termos de composição como em duração. Afinal, tem solos clássicos de Gilmour, levadas de violão, uns temas harmonizados na guitarra (incomuns para a banda), e sessões inteiras dedicadas a sons muito legais de sintetizadores analógicos, tudo isso em 18min. Essa parte dominada por Wright é a melhor, sem dúvida.
Uma boa introdução de sintetizadores é seguida por uma levada na boa de baixo, bateria e guitarra em Pigs (Three Different Ones). Um cowbell no ritmo de metrônomo parece meio deslocado. Essa levada é bem repetida, mas sempre com algum destaque diferente, seja um sintetizador climático, ou um solo de guitarra com talkbox. E lá vão 11min.
Já conhecia Sheep da coletânea Collection of Great Dance Songs, e curtia bastante. É outra faixa longa, com introdução afu de um tipo de Fender Rhodes, e Waters se supera nos vocais – no final dos versos, ele estende a última sílaba (“it´s only Waters´ bloodyminded vocal bravura that makes this torrent of inconsistent-lenght lines and random rhyme-schemes work”), que num truque de estúdio é fundida com uma nota de Mini-Moog (ou outro sintetizador bala). E a composição tem uma levada boa, “uptempo” (o livro sugere que se trata de uma re-utilização da linha de baixo e seqüência de acordes de One of These Days), inclusive com umas guitarras cortantes entre uma estrofe e outra.
Um disco com sons de guitarra e de sintetizadores tão bons, uma atitude talvez mais rocker em se tratando de Pink Floyd, e composições longas mas com várias partes legais, isso é tanto quanto basta para ser essencial.
4 comentários:
meu preferido do pink floyd. mas é realmente pra die-hard fans. por isso, acho que não me impressiona que tu não conhecesse antes.
pois é, o disco é excelente. já tinha baixado antes, mas a não ser por "sheep", não ouvi com atenção o resto. o foda foi achar o disco por 20 pila no 3.º andar da gal. chaves.
pois é. vou ter que ir lá fuçar qualquer hora dessas heuhe.
minha preferida do animals é dogs, disparada.
tava ouvindo dogs no lotação hoje. é ouro. e a parte synth tem uns sons Vangelis.
na Gal. Chaves, 3.º andar, na frente do elevador.
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