quinta-feira, 8 de outubro de 2009

Discografia Dream Theater - Parte XII "Systematic Chaos" (2007)

A mudança de gravadora – para a Roadrunner – parece ter dado novo vigor à trajetória do Dream Theater. Afinal, o lançamento de “Systematic Chaos” foi acompanhado de ampla cobertura com (muitas) entrevistas (geralmente de Mike Portnoy e de John Petrucci) e resenhas favoráveis, produção de videoclipe (depois de anos sem utilização desse recurso), e edição especial com extras (um DVD). Além disso, foi disponibilizado um videoclipe muito legal para “The Dark Eternal Night” no youtube (disparado a melhor música do disco, e a melhor desde “The Glass Prison”) com imagens das gravações. Toda essa campanha acarretou a melhor posição até então de um disco do Dream Theater no Top 200 da Billboard (#19), e consequentemente vendas expressivas e novos fãs. O tratamento dispensado à banda pela nova gravadora foi bastante comemorado e explorado por Portnoy nas suas entrevistas, nas quais foram descortinados os bastidores da trajetória da banda nos anos anteriores, muitos dos quais referi nas resenhas dos discos anteriores (basicamente, a antiga gravadora se limitava a por no mercado os discos da banda, sem maiores preocupações com promoção e divulgação; assim, só os fãs já cativos adquiriam os CDs e a banda não atraia novos fãs). Particularmente, achei muito bem vinda essa vigorosa exposição do Dream Theater, ficando clara, para mim, a posição destacada da banda em relação a todas as demais que se propõe a fazer metal progressivo, sendo certo que a cena atual é mais favorável a bandas que se dedicam a compor músicas mais complexas em termos de guitarras e solos (superando, assim, e com vantagem, a fase do nu-metal que dominou o início da década).

Já faz alguns anos que não prendo a respiração por um lançamento do DT, seguindo a filosofia de manter baixas as expectativas para evitar decepções. Então acompanhei as notícias sobre o início, o andamento e o término das gravações do disco, as tradicionais descrições de Portnoy (“é uma mistura de ‘Octavarium’ com ‘Train of Thought’, passando por ‘Surrounded’” ou algo do tipo), assisti ao vídeo de “The Dark Eternal Night” e comprei o disco na Cultura quando lançado. Naturalmente, o disco está longe de ser um clássico, mas a audição é um pouco mais pacífica do que a dos registros anteriores, contendo um punhado de bons momentos e de músicas legais.

O disco abre com a primeira parte de uma faixa de 25min dividida ao meio. A justificativa é que a banda (Portnoy) queria que abertura fosse com “In the Presence of the Enemies”, mas uma música tão comprida logo de cara poderia tornar as coisas enfadonhas, então se optou pela cisão em duas partes: uma para abrir e a outra para fechar o álbum. Assim compreendida – como uma música de 25min – fica mais fácil assimilar o fato de que os vocais só entram depois de mais de 5min de partes instrumentais. Seja como for, achei um pouco Rush demais essa abertura. Entretanto, a música é boa, sobretudo nas partes cantadas (James LaBrie mandando bem em ambiente de estúdio).

Petrucci resolveu compor letras ficcionais desta feita, e o tema segue em “Forsaken”, o “single” do álbum (videoclipe e tudo mais). Esta e a seguinte, “Constant Motion” (letra sobre si mesmo, como de costume, de Portnoy), me parecem exercícios genéricos com riffs pesados e refrões radiofônicos, sem maior impacto positivo, como tem sido regra a partir de “Train of Thought”.

As coisas melhoram significativamente em “The Dark Eternal Night”. Nada como um bom riff de heavy metal do estilo Dream Theater (e não do estilo de outras bandas), desta vez com várias notas e pausas cortantes. O refrão radiofônico, desta vez, é certeiro, e o dueto de LaBrie e Portnoy nos vocais funciona bem. Algumas partes instrumentais podem soar um pouco demasiadas, mas com boa vontade isso não compromete a melhor composição da banda em muitos anos.

A suíte de Portnoy dedicada ao tema do alcoolismo (que aparece em uma faixa a cada disco desde “6DOIT” e ao final formará uma grande faixa de aproximadamente 60min) segue em “Repentance”. Diferentemente das anteriores, trata-se de uma música calma, com predominância de timbres limpos (esse clima foi cuidadosamente calculado por Portnoy, pois quando a música for executada na íntegra – 60min – é indispensável um momento mais tranquilo, sob pena da audição (pelo público) e da execução (pela banda) se tornarem cansativas, para dizer o mínimo. Essa suíte (“Twelve-step Suite”) se caracteriza pela reciclagem de riffs empregados anteriormente, e sempre fico com a impressão de que são os riffs mais fracos que são utilizados nessas condições. Assim, uma variação de um riff fraco de “This Dying Soul” conduz a maior parte do tempo de “Repentance”, e esse riff fraco aparece ao final durante a parte em que vários músicos de bandas conhecidas (Jon Anderson, Joe Satriani, Steve Vai, David Ellefson, entre outros), sob convite prévio, prestaram depoimentos sobre o tema da música (arrependimento, desculpa, etc). O momento ouro, no entanto, fica por conta de um raro (hoje em dia) solo-com-feeling de John Petrucci: o cara economiza nas notas, mas manda ver nos bends espirituosos, sem mencionar o timbrão.

A audição de “Prophets of War”, com letra de LaBrie, provavelmente seria divertida não fosse a “influência” muito evidente de Muse. Portnoy costuma divulgar os seus discos preferidos, as suas influências e propagar o quão antenado ele é com bandas novas, mas tenho reparado que isso, no decorrer dos anos, teve o malefício de fazer do Dream Theater um repositório de referências e citações. Evidentemente que não há nenhum mal em compor algo similar ao som de alguma banda (todos fazem isso, de Angus & Malcolm Young a Keith Richards, e de James Hetfield até eu mesmo), mas no caso do Dream Theater acho ruim quando esse método é utilizado com preocupante regularidade (o Bruce já havia apontado acertadamente que “Never Enough”, de “Octavarium”, é quase um cover de “Stokholm Syndrome” do Muse, o que naturalmente deprecia uma faixa que poderia ser considerada muito legal). Independente disso, o timbre de teclado de Rudess é legal (tipo arpegiador, se não estou incorreto), bem como o vocal de LaBrie (os versos do refrão são facilmente assimiláveis, e a letra inteira o cara canta com convicção elogiável).

Nas resenhas passadas já sugeri algumas para o título de pior música do Dream Theater; uma das candidatas aparece em “Systematic Chaos": “The Ministry of Lost Souls”. Trata-se de uma faixa de 15min que já começa mal: uma melodia de Jordan Rudess, com timbre datado e fraco, executado a meia velocidade, como se fosse alguma espécie de épico. Ouvi essa faixa algumas vezes com o pensamento de que “com 15min de duração é impossível que não tenha partes boas que se salvem”, mas a conclusão foi sempre a mesma: é possível, “sad but true”, como diria o outro.

O disco termina com a segunda parte de “In the Presence of the Enemies”, que tanto quanto a primeira, tem momentos que funcionam muito bem.

Considero “Systematic Chaos” um disco bastante razoável (de bom) e tenho curtido mais a cada nova audição, desde que se dê atenção às músicas devidas. Apesar de já estarem consolidados os solos fritados de Petrucci e alguns timbres fracos de Rudess, e de marcar o início do ostracismo de John Myung (o cara não compõe mais letras e são cada vez mais raros os momentos em que o baixo se destaca), a mudança de gravadora parece ter facilitado o acesso ao som da banda para uma outra fatia de novos consumidores, além de ter proporcionado novos itens interessantes para os tradicionais seguidores.

2 comentários:

Worldengine disse...

Eu considero este álbum realmente medíocre. A única audição completa dele que consegui fazer foi um esforço meio forte, para ver se rolava algum momento válido. "Repentance" tem coisas legais (apesar das chupações Opeth/Pink Floyd descabidas), e momento lucky strike no Steven Wilson pedindo desculpas por chinelear o DT na mídia (apesar de ele ainda seguir fazendo isso volta e meia).

vinícius disse...

systematic chaos: divertidinho.

tchê, repentance é opeth acústico misutrado com alguma coisa de porcupine tree, especialmente o timbrão distorcido do final. fora isso, tudo o que o petrucci fez ao longo da música foi copiar o mike akerfeldt, inclusive no timbre meio jazzy.

e prophets of war é a mais pura VIADAGEM!

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