Depois do show do Arsenal, o Nilton, o Cláudio e eu chegamos a ir na casa do Bruce, em junho/2004, para fazer umas gravações caseiras dos riffs e músicas novas. Pegamos emprestada a pedaleira Boss do Cláudio que permitia baixar a afinação sem precisar altera qualquer coisa na guitarra; ficamos empolgados com essa liberdade e com o peso proporcionado por afinações bem graves, e gravamos as coisas vários tons abaixo (6.ª corda em B).
Com a volta do Luciano (afastado por um ano para um período de aprendizagem nos Estados Unidos), acertamos que ele e o Gilberto seriam os vocalistas da Burnin´ Boat, tentando recriar o clima muito bom do show do Teatro de Câmara em 2002, e ainda imitar de certa forma o que o Deep Purple fez com David Coverdale e Glenn Hughes. Para mim foi a solução ideal ter os dois vocalistas, pois acho que a banda não poderia prescindir de nenhum. Só que por alguma razão o Luciano não curtiu a experiência no Arsenal e convocou uma reunião de todos para que deliberássemos, afinal, quem seria o vocalista da Burnin´ Boat. O encontro se deu no Cavanha´s da R. Lima e Silva, e a experiência foi muito proveitosa, pois apesar do assunto espinhoso, ficamos com a sensação de que aquele tipo de conversa em volta de uma mesa de bar era muito legal e fazia falta na nossa banda. Conquanto eu estivesse meio atordoado e confuso com a decisão a ser tomada, o Bruce e eu ponderamos que deveríamos nos valer de um critério objetivo, no caso, o do “tempo de serviço”. Independentemente das nossas opiniões pessoais (cada um tinha uma...), achei justo que a decisão se baseasse num critério desse tipo, pois não estava disposto a comprar briga com quem quer que fosse. O Luciano, ademais, no meio da conversa, lançou um argumento que achei significativo: no tempo em que ele ficou de fora, não progredimos nada, isto é, não fizemos shows, nem compusemos significativamente músicas novas, nem estabelecemos uma rotina regular de ensaios. Não lembro de terem o Nilton e o Cláudio se manifestado dando alguma preferência. Então, no final da conversa, que aparentemente transcorreu numa boa e sem ressentimentos, ficou deliberado que o Luciano estava de volta e seria o único vocalista da Burnin´ Boat.
Pouco tempo depois surgiu a chance de fazermos mais um show, desta vez na Croco, localizada na R. 24 de Outubro. Inicialmente, o Cláudio e o Nílton estariam indisponíveis para a data, de modo que repetiríamos a experiência do Teatro de Câmara, na qual eu fui o único guitarrista, e teríamos o Luis Carlos como baixista. Nessas condições, o set list teria que ser curto, mas as músicas seriam pesadas.
O show contou com divulgação interessante, mediante flyers e até uma inserção no caderno de variedades de um jornal local (sempre quis que aparecesse algo do tipo, pois costumava conferir ali quais as bandas tocariam em determinado dia). Assim, o público foi muito bom, talvez o melhor de todos os shows.
Com apenas um ensaio de antecedência, tivemos o ingresso do Cláudio, que eventualmente se tornou disponível. Ajustamos duas participações especiais: Vinícuis, nos teclados, para três músicas, e Cris, no vocal, para cantar um trecho de “As I Am” do Dream Theater, no meio de “Hidden”.
O show foi memorável e isso ficou expresso na resenha que fiz para o este blog:
“Seguramente, este foi o melhor show da história da BURNIN´ BOAT. Vivenciamos aquele tipo de noite em que TUDO deu certo; realmente, uma noite memorável.
A passagem de som estava marcada para as 18h; chegamos lá depois das 20h, e a bateria recém estava sendo ajeitada. Passamos o som primeiro, pois estávamos todos lá (com exceção do Luciano): a 1.ª banda da noite, Ultrasônica só chegou na hora do show, e a 3.ª banda, Coyote Junkie estava dispersa.
Na passagem, iniciamos tocando ACE´S HIGH. Eu utilizei o ampli Fender Princeton, com sua própria distorção - decisão acertadíssima - e o Cláudio usou o Behringer V-Amp 2 , que todas as revistas de guitarra nacionais consagram como o melhor simulador de amplificadores e efeitos do mercado. Conforme o próprio Cláudio, esse simulador não é tão bom assim, "nada supera um bom amplificador".
Efetuados ajustes, tocamos PERFECT STRANGERS, já com Vinícius nos teclados. Foi uma versão majestosa, todos perfeitamente afinados, e os presentes se entusiasmaram bastante. Seguimos, então, com AS I AM (duas vezes).
Os shows, propriamente, só começaram às 0h, e assim ficamos um tempão batendo papo. A Ultrasônica (que no flyer era definida como do estilo "hard pop") tinha bons músicos (destaque para o baixista e para a Ibanez Jem branca de um dos guitarristas). Abriram com LIKE A STONE, apresentaram composições próprias (que não foram do meu agrado - mas respeitei bastante o fato de que eles baixaram a afinação da sexta corda para D), e fizeram uns covers muito bons de Foo Fighters entre outros. Fecharam com KILLING IN THE NAME do Rage Agains the Machine, que ficou muito legal e empolgou a galera. Aliás, a presença do público, surpreendentemente, foi muito boa.
Enquanto nos arrumávamos para assumir o palco, tocou no som mecânico belas músicas: ROAD TO HELL, LONG LIVE ROCK´N´ROLL, entre outras.
Nosso set list foi inteiro apresentado corrido, com pequenas pausas entre as músicas. Foi uma estratégia espontânea e certeira - não demos descanso aos ouvidos de ninguém. A afinação em D ficou com peso e vigor na medida. O público reagiu bem a todas as nossas músicas, mas teve algumas que a empolgação foi geral.
ACE´S HIGH se confirmou como uma ótima escolha para abrir shows. Em seguida puxei NOISE GARDEN, cujo riff principal fica otimizado pela afinação. Rolou algum alvoroço do público, que balançou a cabeça no ritmo cadenciado da música. BLACK DRESSING SOUL ficou boa também. A essas alturas eu já não ouvia mais o baixo do Luís Carlos e a guitarra do Cláudio, mas tenho convicção de que mandaram muito bem. Sem ouvi-los, o jeito foi confiar no instinto e na bateria do Bruce e seguir adiante.
Fizemos uma ótima versão para HIDDEN. Dessa vez, eu senti aquele riff inicial melhor do que nunca. No meio da música, naquela parada, fizemos o trecho AS I AM do último do Dream Theater. Vinícius e Cris assumiram teclado e vocal, e a música ficou muito bem executada. Nesta a galera se empolgou também. A meu juízo, é o tipo de música que é mais legal de tocar do que de ouvir no cd.
Vinícius, então, fez a clássica introdução de PERFECT STRANGERS, e ali eu percebi que a sensação de tocar com o cara é o mais próximo do que se pode chegar à sensação de tocar com o próprio Jon Lord ou Don Airey. O Luís Carlos referiu que se arrepiou nessa introdução; e não é sem razão. Eu não me arrepiei, mas tremi-a-perninha nessa (e em todas as músicas do set list). A execução foi brilhante, e causou comoção na galera. E o teclado fez toda a diferença, pois nos ensaios, só com as guitarras, a música perde bastante o brilho.
Pausa para anunciar o show da banda do Vinícius - Hiléia - no dia 21/08. Não há dúvidas de que o cara é o MVP de qualquer show, de modo que a apresentação da Hiléia, com músicas próprias e covers de Dream Theater, é bastante aguardada. O Henrique, responsável pelas (belas) fotos do show, não perdeu tempo e gritou SPECTREMAN.
A galera pediu mais Deep Purple - teve quem gritou BURN. E seguimos exatamente com essa, que ficou uma bala. Mais uma vez o Vinícius tocou o solo do Blackmore; e o Cláudio, o do Jon Lord. Finalizamos com HUNTING HIGH AND LOW.
O cara da mesa de som já estava prestes a colocar o som mecânico, quando puxei SPECTREMAN. A música não tinha sido ensaiada com o Luís Carlos, por isso não estava prevista. Mas, realmente, não podia faltar. E tocamos assim mesmo. O Lukee tentou acompanhar - não deu muito certo - mas o importante mesmo era tocar. Risos por toda parte. Aí sim, acabamos a apresentação, e o cara da mesa botou MAN IN THE BOX no som mecânico - coincidentemente, é a música que eu venho palpitando para tocar nos shows.
A Coyote Junkie fez uma bela apresentação, só com covers de rock. Os caras estavam muito bem ensaiados, e tinham um guitarrista muito bom, com pentatônicas certeiras. O vocalista eu também curti, deu conta de alcançar o timbre de Brian Johnson e Axl Rose em músicas difíceis como BACK IN BLACK, WELCOME TO THE JUNGLE, entre outras. Rolou até JAILBREAK do AC/DC, que foi a música que me impulsionou para o hard rock/metal em 1993.
Os melhores comentários do show quem ouviu foi o Cláudio. Um dos guitarristas da 1.ª banda (Ultrasônica) achou que a nossa afinação era em B, porque segundo ele "eu toco em D, mas não fica assim tão pesado"; perguntou também se a Cris era da banda, referindo que ela tinha se apresentado bem. Eu, particularmente, fiquei bastante satisfeito com os comentários elogiosos sobre as composições próprias e ao peso das guitarras. De fato, foi uma noite memorável em que tudo deu certo.”
Resenhas dos ensaios até este show:
1) 07.08.2004 - Improvisando
2) 10.08.2004 - Cafezes
3) 12.08.2004 - Na hora a gente acerta
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