Nesse ano de 2008, especialmente no 2.º semestre, encontrei vários cds há muito perseguidos por preços interessantes. É comum ter visto em determinada época em loja um cd de uma das minhas bandas favoritas, mas que por uma razão ou outra deixei de levar para casa; em regra acabo me arrependendo depois, e aí passo o resto do tempo tentando reencontrar o disco, geralmente esgotado. O "Rising" do Rainbow é um bom exemplo disso, e o mesmo se pode dizer do "The Dark Ride" do Helloween.
Esse disco foi lançado em 2000, e sucedeu o excelente "Better Than Raw" de 1998 (este, particularmente, é um dos discos essenciais). Os alemães trouxeram o Roy Z para a produção (o cara estava muito badalado, então, pelos expressivos resultados dos trabalhos com Bruce Dickinson, Rob Halford, além de ser um baita guitarrista e compositor) e, seguindo em parte a tendência da época, baixaram a afinação das guitarras. Tão logo o cd chegou na Mad Sound, aluguei e fiz back-up, mas não fiquei totalmente satisfeito com o álbum. De fato, as músicas são mais pesadas em razão da afinação diferenciada, mas as composições não pareceram tão inspiradas. Chamou-me a atenção a quantidade de faixas creditadas a Andi Deris e Uli Kusch (o baterista se revelou uma fonte muito boa a partir de "Better Than Raw"), e a presença de apenas duas de Roland Grapow - no disco anterior não havia nenhuma do guitarrista e isso me levou a concluir que os seus discos solo eram melhores que os mais recentes do Helloween (hoje em dia o meu entendimento já é inteiramente diverso).
Mesmo não muito empolgado com o disco, nunca deixei de acompanhar os lançamentos da banda. Em 2001 fui no show que eles fizeram no Opinião, na última turnê do Helloween com Uli Kusch e Roland Grapow (são bem conhecidas as diferentes versões para a demissão desses caras, que, para mim, eram os melhores músicos da banda). O interesse ficou renovado ano passado quando resolvi ouvir "Rabbits Don´t Come Easy" e a terceira parte de "Keeper of the Seven Keys", e assim fui motivado para assistir ao show dos caras em 2008 no Pepsi On Stage. Nem parece que a banda tem quase 25 anos de estrada, pois apesar de todos esses discos lançados, nos shows são as músicas antigas que fazem a galera vibrar com mais intensidade. Pessoalmente, me divirto bem mais ouvindo o material recente, i. é, o da época de Andi Deris. E acho que os caras conseguem se desincumbir com razoável eficiência da tarefa de não se repetir, embora essa conclusão não seja totalmente pacífica. E acho que tanto quanto possível todas as bandas deveriam lançar discos regularmente, a cada dois ou três anos - na média acabam sobressaindo os discos bons e dão aos ruins a qualidade de discos obscuros.
Parece-me inegável que "The Dark Ride" contém todos os ingredientes do som do Helloween, desde o som mais antigo, que deu início ao que se convencionou chamar de heavy melódico ou, hoje em dia, power metal (nas faixas "All Over the Nations" e "Salvation"), até o som mais modernoso, com bastante peso e riffs brutalizados (como em "Mr. Torture", notadamente nos versos, e "The Departed" que tem uns efeitos bem diferentes também). Acho legal o início de "The Departed (The Sun Is Going Down)"; composta por Kusch, ouve-se um riff com pausas indicando um andamento que é, depois, quebrado quando entra a bateria e os demais instrumentos - parece outro riff, ou outro groove. Os melhores refrões estão em "Mr. Torture" e "Immortal (Stars)". Weikath ainda curte os teminhas de guitarra no início das músicas, e isso está presente nas suas duas composições, "Salvation" e "All Over the Nations". Ainda não estou certo mas parece que o disco não foi bem recebido na época do lançamento, e após o fim da turnê e da demissão de Kusch e Grapow, os integrantes remanescentes foram instados pela companhia para produzir um disco que marcasse uma volta em grande estilo, e isso acabou frutificando em "Rabbits Don´t Come Easy".
As duas composições de Grapow são muito boas. A faixa-título encerra o disco e se extende por quase 9min com direito aos mais furiosos duetos de guitarra no meio, de tantas notas e arpejos que são executados com a conhecida proficiência. Todos os riffs e todas as partes são brilhantes, alternando a velocidade dos tempos (mais rápido e mais lento). De outro lado, "Escalation 666" tem andamento mais cadenciado, riff inicial utilizando harmônico artificial no estilo Zakk Wylde e conta com afinação ainda mais pesada (talvez com guitarras de 7 cordas, ou guitarra-barítono - as guitarras rugem durante os versos, e são acompanhadas por voz bem rasgada de Deris nessa parte). É muito legal a quebrada no tempo durante o refrão, algo meio incomum e, por essa razão, digno de atenção. O solo começa na manha e depois vem umas notas com um pitch-shifter que aumenta várias oitavas a nota digitada (Satriani e Vai costumam utilizar bastante esse efeito - exemplo, no caso de Satriani, seria "Cool #9").
Deris é o principal compositor em "The Dark Ride", contribuindo com 5 faixas. "Mirror Mirror" é a primeira delas; geralmente não gosto quando a música começa com guitarras distorcidas e dá uma acalmada nos versos com guitarra limpa ou violão. Mas no geral a faixa tem várias partes boas e uns solos legais.
O "single", como de costume, é uma faixa de Deris, "If I Could Fly". Na época em que ouvia o disco não dei muita bola; depois de ver essa música ao vivo no show de 2008 no Pepsi On Stage formei outra convicção sobre ela: trata-se de uma composição com estrutura bastante simples mas com utilização eficiente de acordes repetidamente tocados com afinação mais pesada. Acabou, então, se tornando uma faixa divertida de ouvir. O cd que encontrei para aquisição é um recente relançamento nacional (na época, 2000, só importado), que já veio com todos os bônus possíveis. Assim, além da versão original, há mais duas para essa "If I Could Fly": uma "EP version" e outra "Extended Version". Admito que só uma audição mais cuidadosa e apurada para notar alguma diferença, e acho que nem é o caso de se dar a esse trabalho.
Ainda com as faixas de Deris, "I Live for Your Pain" começa com baixo e bateria e depois vem as guitarras com bastante peso na afinação. A estrutura é convencional, verso/pre-chorus/chorus, mas todas essas partes fluem naturalmente, então é mais uma boa do Deris, com refrão marcante e tudo. A banda só pisa no acelerador, contudo, na décima faixa, "We Damn the Night". A parte mais legal vem antes do solo, com uns riffs com palhetada staccato bem rápida; depois disso, mas ainda antes do solo, vem uns arpejos bem rápidos. Enfim, vem o solo curto, umas repetições do riff principal, e o tradicional coro para a galera "ô-ô-ô" (obrigatório para o heavy melódico). "Immortal" é a mais atípica, pois começa com violão e quando se agregam os demais instrumentos já há menção à melodia do refrão. A afinação continua pesada, mas a distorção das guitarras não é tão forte. A parte de guitarra fica realmente legal a partir do segundo verso.
Geralmente o Helloween grava mais músicas do que as que constam dos álbuns para lançar como lados-B de EPs. Acho essa estratégia uma grande sacanagem com quem adquire o álbum, pois ainda se vê obrigado, caso queira ter a coleção completa, a comprar o single com duas ou três músicas, sendo certo que esse formato não colou por aqui. Seja como for, no cd constam os bônus para o mercado japonês/europeu/brasileiro: "The Madness of the Crowds" (outra de Deris - rápida e comum) e "Deliver Us From Temptation" (solitária contribuição de Markus Grosskopf - outra rápida, com estilo Judas Priest, inclusive no vocal bem agudo nos versos).
O que se tem é um disco com afinação pesada, riffs bons e muitos momentos marcantes, que fazem ficar com determinadas músicas na cabeça por muito tempo. Talvez não seja o tipo de som que algum fã mais tradicional gostaria de ouvir, mas o fato é que o Helloween continua produzindo bons discos.
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