Conheci Black Sabbath no início dos anos 1990 pelos vídeos de “Iron Man” e “Paranoid” que a MTV exibia (geralmente no “Clássicos MTV” e no “Fúria Metal”, não por acaso apresentados pelo Gastão). Desde então, e pelas leituras da Rock Brigade e da Top Rock, já sabia que se tratava de uma das três bandas fundamentais do rock pesado. O primeiro cd que ouvi foi uma coletânea disponível na TV3 Video para locação, “Forever”, com algumas das faixas clássicas da banda de Birmingham com Ozzy Osborne (uma das mais marcantes era “Under the Sun”, que para mim definia o som do Sabbath). Lembro, por fim, do Beavis & Butthead “cantando” o riff de “Iron Man”.
Lá por 1994 a idéia transmitida pelo Gastão - que incorporei por muito tempo - era de que somente o material do Sabbath com Ozzy seria o que valia a pena ouvir, assim como o do período com Dio; mas toda a discografia de Iommi com Tony Martin seria desprezível. Aliás, parece-me que isso ainda é uma espécie de senso comum. Mas na época, ainda não conhecia suficientemente a banda para desmentir isso; lembro que em 1994 o Sabbath estava lançando “Cross Purposes”, com um clip na MTV para “The Hand That Rocks the Cradle”, e naquele ano a banda se apresentou no memorável Monsters of Rock com Kiss, Suicidal Tendencies, Dr. Sin, Angra, etc. A formação que veio se apresentar aqui era assombrosa: Iommi, Geezer Butler, Bill Ward e Martin. ¾ da formação original. E "Cross Purposes" marcou o retorno de Tony Martin, após a breve reunião da formação "Mob Rules" para o disco e turnê de "Dehumanizer" em 1992.
No final dos anos 1990 (mais espcificamente entre 1998 e 1999), depois de conhecer todos os discos da era Ozzy e dos anos Dio, as pesquisas me levaram aos discos com outros vocalistas: Glenn Hughes, Ian Gillan e Tony Martin. Em relação ao último é que recaem as maiores restrições, e cheguei a conclusão de que os discos dessa época, se não são clássicos, contêm composições excelentes de Iommi, e não há como negar que Martin escreve boas letras e as interpreta decentemente.
Um grande amigo dos tempos de colégio, o Giulia, adquiriu “Cross Purposes” de um vizinho de prédio dele, e depois de algum tempo, e de ouvir com atenção o disco, persuadi a que ele trocasse esse e o tributo ao Kiss (“Kiss My Ass”) por um bootleg do Metallica (gravado em Donington, 1996, pouco antes do “Load”).
Como todo disco do Sabbath, “Cross Purposes” tem um punhado de músicas muito interessantes. A melhor delas é mesmo o single “The Hand That Rocks the Cradle”. Lamentavelmente não conheço nenhuma versão ao vivo dessa faixa (não constou do CD/DVD “Cross Purposes Live”). O dedilhado do início (e que volta depois do solo) parece simples, o mesmo esquema é tocado várias vezes só mudando algumas notas, mas não consigo tirar igual ao disco. Depois que Martin grita “Toniiiiiiiiiiiiiiiight” vem um daqueles riffs inacreditáveis de Iommi, autêntico e com marca registrada para headbanging. Sobre esse riff são cantados os versos, e o refrão é acompanhado por acordes. A estrutura é essa, bem simples, mas a música é matadora. Riff e refrão muito inspiradores.
A faixa de abertura, “I Witness” é um pouco incomum, com várias partes, e um riff excelente durante os versos. A seguinte é outra das melhores, “Cross of Thorns”, que começa meio balada e depois fica muito legal - Iommi tem a manha para tornar essas músicas interessantes, e é por isso que se deve ouvi-las quase na íntegra para poder julgá-las boas ou ruins. “Imaculate Deception” tem uma boa dinâmica rápido/lento, “Psichophobia” tem andamento quebrado (não muito típico do Sabbath) e “Evil Eye” tem um baita riff e um curioso crédito a Eddie Van Halen (será que o cara compôs o baita riff dessa música?).
Se “Cross Purposes” não é um clássico do Sabbath, pelo menos conta com Geezer Butler e Bobby Rondinelli (ex-Rainbow, preterido por Eric Carr na escolha para substituto de Peter Criss no Kiss) e tem um número razoável de composições excelentes. É um dos meus favoritos e por toda a parte de guitarra é um disco essencial.
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