domingo, 14 de dezembro de 2008

O CD da Burnin´ Boat - "Ignitin´" (2001) - Parte II - as músicas

As músicas

BOATS ARE BURNIN’ – O riff dessa música surgiu numa tarde de sábado de 2000, na qual estava ouvindo o cd “Time of the Oath” com a guitarra plugada no amplificador. A 2.ª faixa desse disco é Steel Tormentor, e tem uma introdução rápida de bateria. Tão logo ouvi essa parte de bateria, no instante em que o Helloween iniciaria a música, eu toquei a primeira coisa que me veio à cabeça, e o fiz como se estivesse acompanhando os guitarristas do Helloween. Saiu então uma versão primitiva do que seria o riff de BAB. Pratiquei um pouco e dei contornos finais ao riff com um tipo de estrutura que prezo bastante: um riff de quatro compassos, sendo 1 = 3 e 2 =/ 4 no último tempo. Imediatamente fui ao computador reproduzir as notas no GuitarPro e mandei o arquivo para o Bruce. O resto da música foi composto em jams como Bruce. Não estava muito certo quanto ao que seria tocado nos versos; o Bruce sugeriu, então, que se mantivesse o ritmo na corda A (5.ª corda solta), e que ao final de cada tempo eu tocasse um acorde – elegi, então, o D na primeira vez, e o G na segunda. A parte lenta foi criada num daqueles momentos em que estamos realmente sintonizados na música, e a sucessão de acordes me remete a Black Sabbath (e.g., “Sympton of the Universe”). Foi numa jam memorável com Diego, da Hibria, e Jorge Gordo, que incrementamos essa parte do meio com uma 2.ª guitarra diferente da 1.ª – esta tocaria a seqüencia de acordes e a outra faria uma melodia diferente. Essa perspectiva foi proporcionada pelo Diego, que abriu a nossa cabeça para as possibilidades de interação entre duas guitarras. A parte do baixo, aqui, foi baseada em um improviso do Petry do Slap, um baixista da Famecos arranjado pelo Luciano, e que ficou tão legal que pedimos que o Nilton mantivesse. Com dois guitarristas, pudemos utilizar o riff principal para a base dos solos, que seriam no estilo Iron Maiden – um depois do outro, com 4 tempos para cada um. O meu solo foi todo ele planejado em casa, na véspera da gravação do cd, e até hoje fico bastante satisfeito com a sua composição e planejamento. Utilizei influências como Ace Frehley (no começo), Marty Friedman em “Hangar 18” do Megadeth, George Lynch em “Kiss of Death” do Dokken (na parte com a 1.ª corda solta). A letra também tem uma história à parte: foi toda ela composta pelo Bruce, mas com o título “Play my Game”, que julguei altamente não apropriado para o quão legal eu achava que a música era. Eu realmente achava que se tratava de uma baita música, e que merecia um título à altura, mais ou menos como são as músicas do Yngwie Malmsteen, que já começam legais pelo título (“Rising Force”, “Vengeance”). Assim, sugeri que o título fosse “Boats are Burning”, fazendo referência ao nome da banda, e influenciado por “Now Your Ships are Burned” do guitarrista sueco. Bruce respondeu que não haveria rima; e foi daí que sugeri que a última fase do refrão fosse “Now that you see me comin´; you know your boats are burning”. Após a gravação do cd, o Bruce sugeriu que “Black Dressing Soul” fosse a primeira música, mas na minha cabeça a primeira música do cd só podia ser BAB, pois os melhores discos de hard rock-heavy metal começam com uma música rápida e forte: Burn, Love Gun, Creatures of the Night, todos os discos do Iron Maiden (exceto The X Factor). Acho que foi uma decisão acertada, pois permite a quem nunca ouviu a BB saber que se trata de uma banda centrada em guitarras vigorosas, no melhor estilo hard rock anos 80. As pessoas geralmente tem uma reação positiva a essa música, mas acho que o Cláudio e o Nilton não eram grandes fãs dela, de modo que foi retirada do repertório dos shows.

BLACK DRESSING SOUL – Essa música foi praticamente toda ela composta em jams com o Bruce. Para nós ela desde o início demonstrou claramente uma influência do Metallica na época Load. O riff principal utiliza as mesmas notas de “Ain´t my Bitch” e “King Nothing”. A parte original dos versos jamais me deixou satisfeito, de modo que sugeri que apenas o Nilton acompanhasse os vocais, com as guitarras voltando no pre-chorus (a versão que ultimamente vínhamos tocando incorporava as guitarras nos versos, com a 6.ª corda bem abafada, e afinação toda um tom abaixo). Claudio fez uns ad-libs nesses versos que ficaram bem legais na versão do cd. Especialmente no começo da banda, eu achei que as músicas deveriam ter várias partes, tendo em vista a influência Megadeth nesse ponto. Na época de BDS, lá pelo meio de 2000, eu já achava que as composições podiam ser mais simples, mas, ainda assim, entendi que deveria ter uma parte lenta nessa música, com um dedilhado, que surgiu espontaneamente e logo vi que podia ser utilizado em BDS. Essa parte me trouxe complicações nas apresentações ao vivo, pois às vezes não conseguia sincronizar o movimento de posicionar o dedilhado na guitarra com o de pisar no pedal de distorção (a pedaleira Digitech foi adquirindo um mal-contato que me forçava a pisar com força para desligar ou acionar a distorção). A música foi composta quando já tínhamos iniciado a primeira sessão de gravações do cd, de modo que provavelmente eu gravei ela com a minha guitarra nova na época (assim como Heartbreakin´). O solo dessa música ficou ao encargo do Cláudio que o fez de maneira magnífica no cd. A letra foi incumbência exclusiva do Bruce, e aparentemente é sobre a Raquel. BDS foi excluída do repertório dos shows por algum tempo, mas nos últimos ensaios, há algum tempo, vínhamos recuperando o gosto na execução dessa música.

SAY WHAT YOU WILL (Fastway) – Bruce e eu sempre cultivamos o gosto pela descoberta de bandas novas e pesquisa de bandas consagradas ou obscuras. A internet proporcionou contato com músicas de abertura de seriados de TV, somo Super Máquina (Knight Rider), mas por alguma razão resolvemos que seria legal ensaiar o tema da Armação Ilimitada (Juba & Lula). No cd, essa é a que teve o melhor registro das guitarras (provavelmente gravei as duas guitarras com a guitarra Cobra).

COLD WIND – O dedilhado que inicia e toma conta da música foi composta bem no início da banda, e se baseia em algumas notas de dedilhados do Iced Earth (na verdade, eu olhei para umas tablaturas e comecei a improvisar em cima das notas que estavam ali, e rapidamente fiquei satisfeito com esse dedilhado). Os acordes do refrão saíram naturalmente e a parte em A foi criada numa jam como Bruce. Tínhamos várias letras sem música, e achei que a letra de COLD WIND escrita pela Raquel poderia encaixar com essa música e deu certo. O solo inicial eu compus e registrei numas gravações caseiras toscas, mas achei que ficaria melhor para o Cláudio interpretá-lo; entretanto, pelo fato de ensaiarmos muito pouco essa música, a participação dele e - também do Luciano - ficou prejudicada (o solo, para o meu gosto, não tem um bom feeling, e os bends parecem fora de lugar). Essa falta de contato prévio e íntimo com a música impediu que sentíssemos o seu “espírito” e a gravação refletiu isso (a música tinha um encerramento que eu jamais consegui lembrar da sua execução, e assim no cd a música termina em “fade out”). Seja como for, foi legal colocar essa música lenta como a 4.ª na ordem do cd e serviu para mostrar a variação do repertório.

OVER THE MOON – Essa eu considerei por muito tempo como a melhor da banda. O riff foi composto numa madrugada insone de 1998, quando estava ouvindo o primeiro disco do Primal Fear (banda do Ralf Scheepers). Levantei da cama e peguei o violão e utilizei as notas F-G-Bb-C para compor esse riff que considerei, também, com um bom estilo Black Sabbath. Na mesma hora me vieram os acordes F-G-F-Bb-G que achei bem imponentes (a cadência acaba lembrando os acordes do refrão de Hidden). É uma das primeiras composições da banda. O Bruce escreveu uma letra com o título inverso de uma das minhas músicas favoritas do Black Sabbath – Under the Sun. Num ensaio Bruce-eu-e-Luciano, o vocalista encaixou perfeitamente a letra e a música estava encaminhada. Inseri um riff legal com a 6.ª corda solta, depois do refrão, e antes dos solos, o que me pareceu correto (dentro da idéia de colocar vários riffs e partes numa mesma música – aquele riff legal só aparece naquele específico momento, tocado 4 vezes; lembro que o Daniel Ace, numa jam, quando essa música sequer tinha letra, comentou que não entendia como eu tinha “modulado” a música daquele jeito, e tomei o comentário como um belo elogio, sem sequer saber o que significava “modular” a música – para mim parecia o jeito certo de tocar e soava bem).

ATTITUDE ADJUSTMENT – Trata-se de uma composição criada toda ela numa jam com o Bruce, em meados de 2000. Simplesmente toquei aleatoriamente uns acordes (E, G, A, G, E), mais ou menos como Eddie Van Halen em Eruption, e o Bruce emendou uma batida rápida na batera. Instantaneamente toquei esse riff tipo Stratovarius e fomos tocando até o final. Gosto de Stratovarius, Helloween e Van Halen, e então essa música era o meu tipo de música; mas jamais acharia que o Bruce gostaria de uma composição dessas. Para minha surpresa, o cara curtiu e deu a ela um nome que ele achava legal – e que aparentemente vem a ser o nome de uma faixa do Aerosmith. Antes que eu pensasse em colocar uma letra nela, o Bruce ponderou que poderíamos deixá-la como estava, sem vocais. O fato é que incluímos no repertório dos shows e por alguma razão entendemos oportuna a inclusão dela no Ignitin´, e a gravação deveria reproduzir tanto quanto possível aquela primeira versão tocada espontaneamente numa jam. É uma faixa rápida, divertida e descomplicada, mas nem um pouco memorável. Curiosamente teve um cara que resenhou o cd e publicou na internet num desses sites de rock; a única música que ele se abriu foi essa, justamente a que menos nos representava musicalmente (esse foi um dos poucos retornos negativos que tivemos de Ignitin´; o cara não poupou palavras para criticar a ausência de sentido em gravar tantas músicas num cd demo em detrimento da qualidade da gravação. Realmente, o crítico tinha toda a razão; mas nós pessoalmente queríamos gravar um cd que fosse mais que uma demo de 2 ou 3 músicas – queríamos gravar um cd que se parecesse o máximo possível com um cd gravado por uma banda).

HEARTBREAKIN´ - Numa noite de sábado ou domingo qualquer estava tocando guitarra e gravando alguns riffs no computador até que surgiu esse riff incrível, com características de Van Halen e Impellitteri. Foi um momento incrível no qual o riff saiu inteiro de uma vez só, começando em A, avançando para G e voltando para F (as notas saíram exatamente do jeito que eu imaginei na minha cabeça e fiquei admirado como não precisei de nenhum contorcionismo para tocá-las – era só aplicar as notas do acorde de F maior), e finalizando com uma seqüência de notas que retornaria para A (E-F-G-A-C-D). Os versos são inspirados em Impellitteri na música Stand in Line. Algum tempo depois, numa tarde de sábado em que estava me preparando para o ensaio semanal da época me veio a parte com as pausas do meio da música até a entrada do solo: imediatamente pulei da cama e gravei tudo de cabeça no Guitar Pro no computador. No ensaio daquele dia finalizamos a música. Depois o Bruce fez a letra.

HIDDEN – Trata-se de uma música especial, pois foi a primeira música de nossa autoria com começo-meio-e-fim. O riff principal eu criei em 1998 quando estava apenas lendo umas tablaturas de músicas de banda de trash e black metal tipo Slayer e outras (foi um exercício exclusivamente visual, só para ver as notas que os caras costumavam usar nos riffs, dado que jamais tinha ouvido quaisquer das músicas). Assim, brincando com as notas é que compus o riff principal. O riff dos versos, na versão do cd, foi composto a partir de uma idéia do meu colega de faculdade na época, o Tiago; em essência, peguei aquele riff dele e dei uma incrementada (mudei a nota G# para G e acrescentei a última virada – é similar com o que o Lars fez com o riff de Enter Sandman do Kirk). Na época eu achava que as boas músicas deveriam ter vários riffs e partes, como preconizava Dave Mustaine. Depois de criar os acordes para o refrão, achei conveniente colocar uma parte com guitarra limpa. Inicialmente, o último verso da letra composta pela Raquel era cantada nessa parte (e desse jeito a música foi apresentada no 1.º show da Burnin´ Boat, em 1999, no CECAF). Mais tarde, com o Cláudio, optamos por deixar ali o seu solo de guitarra, e o último verso seria cantado sobre a base do meu solo. Lembro que quando a banda ainda tinha Felipe Stanley e o Pedro eu tinha criado um riff bem rápido para a parte que se seguiria à lenta, mas rapidamente a idéia foi descartada, pois o Pedro jamais conseguiria tocar aquilo no baixo. Assim, na mesma hora em que minha idéia foi repudiada, imediatamente sugeri “então, vamos tocar esses acordes, assim” e toquei A-F-D-E, o que funcionou legal inclusive para a volta, ao final do solo, para o riff inicial. Para o riff, a idéia inicial era seguir uma idéia que Marty Friedman explicou em relação ao solo de Symphony of Destruction: começar com poucas notas, bem devagar, para depois ir com tudo. Assim, as primeiras tentativas foram nesse estilo. Depois, evolui para um início com a pentatônica de Am, com uns bends e tal, passando para a pentatônica de E, com mais bends. Na gravação surgiu uma melodia legal. Com todas essas partes, pode-se dizer que é um mini-épico da Burnin´ Boat com pouco mais de 4min, mas com bastante pretensão e intuição.

SWEET THING – No começo da banda, eu tinha um gosto por bandas de heavy melódico, mas o Bruce tinha preferência por rock mais tranqüilo tipo Fleetwood Mac e Black Crowes (o cara não podia nem ouvir falar em Dream Theater: “é uma banda que faz bons covers, mas as músicas próprias são chatas”). Assim, eu tinha que me policiar para não fazer com que a banda não se tornasse totalmente metal, o que desagradaria imensamente o baterista. Assim, numa tarde qualquer, deixei tocando o cd Made in Germany do Axel Rudi Pell e durante a música Nasty Reputation eu toquei junto com a guitarra, mas o riff que eu tocava era diferente da que tocava no cd; apenas aproveitei o ritmo da bateria e compus o riff mais rocker do cd. Com uma lista de letras do Bruce disponível (acho que essa era sobre a Carol), eu resolvi encaixar o riff na letra de Sweet Thing, e o refrão com aqueles acordes E-E-A-B saiu imediatamente. Mais tarde encaixei aquele riff que utiliza a pentatônica de A para dar uma mudança antes do solo.

NOISE GARDEN – Essa música foi composta inteira num ensaio Bruce-e-eu, bateria e guitarra, em meados de 2000. A guitarra afinada com a 6.ª corda em D desde sempre proporcionou uma facilidade incrível para criar riffs legais, e após aquele ensaio levamos as fitas para casa, gravamos os mp3, e escrevi os riffs no Guitar Pro. A partir daí apenas estipulei a ordem dos riffs e a música estava pronta. Achamos que tinha um estilo Soundgarden, daí o nome de trabalho “Noise Garden”, tipo gozação. Resolvi, então, escrever uma letra de gozação sobre a temática grunge e suas letras depressivas-deprimentes. Mandei alguns versos e o refrão pro Bruce e ele escreveu o resto. A gravação das bases dessa música foi muito legal; pluguei a guitarra Squier Stratocaster do Bruce no amplificador (acho que Fender) do estúdio e consegui um timbre distorcido muito legal. Seco e poderoso. Enquanto tocava eu percebia que o som estava muito legal. Realmente senti muito gosto de tocar aquele riff daquele jeito. Por alguma razão eu resolvi fazer o solo dessa música e durante muito tempo me julguei capaz de fazê-lo. Até hoje acho sensacional e me surpreendo com o início com bends e depois aquele lick com a ponte que remete a Joe Satriani (no final da música Surfing With the Alien). O resto do solo também me parece bastante satisfatório. Nos últimos tempos eu optei por me concentrar nas funções de guitarra base e deleguei ao Cláudio a tarefa de executar o solo de Noise Garden, e o legal é que ele preservou esse lick Satch. É a única música com afinação diferente no disco, e por essa razão com maior peso, de modo que deixamos por último. Na época, não achava que fosse uma grande composição – sequer era tocada nos primeiros shows e demorou para ser ensaiada com a banda inteira - , mas aos poucos fomos inserindo no set list e hoje a considero um clássico da banda, e o início de uma tendência de compor com essa afinação (dropped-D).

SPECTREMAN – Achamos na internet o mp3 com a música de abertura do memorável seriado japonês Spectreman. O Guilherme Deathroner tirou a parte do baixo, o que acabou me motivando para tirar a parte do violão. A partir daí se tornou um hino da banda a ser tocado em todos os ensaios e shows. Resolvemos colocar como faixa-escondida do cd. Eu gravei as bases com a guitarra Squier Stratocaster do Bruce. Na hora do solo (que eu geralmente fazia) optou-se por delegar a tarefa de gravar a base ao Cláudio, pois ele tinha maior aptidão para fazer alguns barulhos diferentes e truques legais com a guitarra; mas ele acabou se limitando a fazer os acordes com um único toque, finalizando apenas com um harmônico artificial. Nada muito inventivo – eu poderia ter feito tudo aquilo. Mas só assim para ter os dois guitarristas gravando essa faixa.

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