Sobre “Creatures of the Night” já tive oportunidade para escrever, nos primórdios deste blog, incluindo apreciação do momento histórico do seu lançamento no início dos anos 1980, bem como algumas memórias pessoais. A versão em CD apareceu em meados dos anos 1990, com capa diferente (sem máscaras e com Bruce Kulick) e ordem alterada das faixas; tive essa versão até que comprei em 1998 o CD remasterizado e importado (com a sensacional capa original) de um amigo (Humberto) que tinha uma locadora (e acesso à distribuidora de discos importados a preço bem abaixo das lojas convencionais). Cabe dizer que o som do remasterizado é MUITO melhor que o da versão original, sobretudo o som da bateria (o que já é um baita ganho, sabendo-se como se sabe que o registro de bateria nesse disco é um dos melhores de todos os tempos). Comentários atualizados estão entre []'s.
“23.07.2003 - Creatures of the Night – trata-se do meu disco favorito de todos os tempos; faço questão de ressaltar isso de início. Lançado em 1982, após o fracasso de Music from the Elder, Creatures retomou a idéia de lançar um disco de rock pesado (hard rock), numa tentativa de mostrar aos fãs que o Kiss ainda era capaz de produzir bons discos como no passado (anos 70). Mas a essas alturas, boa parte dos fãs já havia abandonado a banda [sobretudo pelo som suave de "Unmasked" e "Dynasty e] diante do surgimento de novas bandas de heavy metal e hard rock no início dos anos 80. Iron Maiden, Judas Priest, Motorhead, Saxon, Def Leppard, Diamond Head, entre muitas outras bandas inglesas ganharam notoriedade quando o movimento punk foi perdendo espaço.
Desse modo, Creatures não gozou do sucesso esperado. Injustamente, devo dizer. Trata-se de um grande disco de hard rock, composto de 9 músicas comprometidas com o estilo. Em Creatures ouvem-se riffs pesados e rápidos. O baixo também se destaca em algumas músicas. E a bateria de Eric Carr se beneficiou tremendamente com a mixagem, alcançando um dos melhores registros da história do rock. Entendo que nesse processo de mixagem, as guitarras não levaram a melhor, ficando às vezes difícil de ouvir alguns riffs (notadamente em Saint and Sinner e Danger). Mas isso não compromete o álbum, e é daquelas imperfeições que compõem as grandes obras.
O disco inicia com a faixa título, e uma abertura fenomenal de Eric Carr. A edição remasterizada do cd realça ainda mais esses detalhes. Cabe referir, neste passo, que uma das grandes belezas desse disco é que o lead guitar Ace Frehley não participou das gravações. Todos os solos foram gravados por outros guitarristas: e a tarefa de adivinhar que guitarrista gravou qual solo é bastante divertida (na minha opinião). No caso da música Creatures of the Night, o solo principal (um dos melhores que eu já ouvi) foi gravado por Steve Ferris. Como curiosidade, vale lembrar que Eddie Van Halen chegou a comparecer às gravações para gravar o solo da faixa-título, cogitando-se até que seria o guitarrista substituto de Ace. Os demais mini-solos (fills entre os versos) foram obra de Adam Mitchell (que compôs essa música com Paul Stanley). Bela música, belos versos, fantástico solo, e brilhante de bateria de Eric Carr.
Saint and Sinner é a primeira faixa de Gene Simmons. Tem um andamento mais cadenciado. Sobressai aqui a bateria muito criativa de Eric Carr, que acompanha os versos de maneira bem inusitada; no refrão Eric acompanha as guitarras criando um belo efeito com os vocais. O solo (memorável), tudo indica, foi patrocinado por Vinnie Vincent (então Vincent Cusano), que compôs várias músicas nesse álbum e viria a ser o substituto de Ace na turnê e no álbum seguinte.
Keep me Coming é de Paul, e tem um bom refrão que repete o título da música várias vezes. O riff principal tem uma característica de Paul, apresentada também em outras músicas como The Oath (do Elder) e Get all you can take (do Animalize). Outra característica do Paul em muitas músicas é um trecho antes e depois do solo (ver Under the Gun do Animalize). Gosto muito do pre-chorus “Sweet little innocent girl...”. Seguramente o solo foi gravado por Vinnie.
Rock and roll hell foi composta por Gene, Jim Vallance (que compôs muitas outras com o Kiss) e Bryan Adams (o cantor canadense aquele) [na verdade, aparentemente a faixa foi composta exclusivamente por Vallance e Adams], e é calcada basicamente no baixo de Gene. Bastante marcante e até representativa do ânimo do baixista/vocalista naquela época. “Get me out of this rock and roll hell”. Eric é bastante criativo nessa música (acompanha os versos com o tom, e ajuda a construir a ‘tensão’ que termina com o refrão). Nessa e em todas as músicas Eric produz belos ‘rolos’ na bateria (acho que essa é a melhor característica dele, e nesse disco particularmente – todos os rolos são brilhantes; o modo como ele insere na música, marcando o fim de um trecho e o início de outro). Não estou muito seguro, mas parece que o solo é de Vinnie também.
Danger é uma música bem rápida, composta por Paul e Adam Mitchell (a dupla da faixa título). Aqui acho que a mixagem prejudicou as guitarras. Bom refrão. Solos de Vinnie, com certeza. Eric dá mais um show na bateria – há um overdub no hi-hat. E os rolos são soberbos. Talvez seja a melhor contribuição de Eric no álbum. Repare na tensão criada no pre-chorus que vem depois do solo – Paul cantando com muita emoção. [O baixista do Yellowjackets Jimmy Haslip foi chamado por Michael James Jackson, o produtor, para colaborar nas sessões e acabou registrando o baixo dessa música].
I love it loud é hino da banda nos anos 80. A música é inconfundível, todo mundo conhece. O bumbo de Eric está com afinação bem mais pesada (como nas outras músicas). O solo é extremamente simples – pode ter sido tocado por qualquer um; não tem como identificar nenhum estilo [Gene já contou a história de que Vinnie Vincent queria fazer um solo acrobático de guitarra, mas o baixista fez prevalecer um solo bem simples]. Ao final, há uma utilização do recurso fade out – fade in – fade out (a música parece que termina, mas volta pra, aí sim, terminar).
I still love you é a balada de Paul. É tão triste e comovente que eu nao costumo ouvir regularmente. Destaque todo especial pra letra, realmente tocante. Já é de conhecimento público, mas não custa lembrar que Eric foi quem gravou o baixo. O solo, com muito feeling, ao que parece foi gravado por Robben Ford.
Killer até hoje eu a vejo como a música dispensável do disco. O riff lembra Led Zeppelin na fase hard (primeiros discos). Não é ruim a música, mas não é nada memorável. Solos de Vinnie Vincent, seguramente.
War Machine encerra o disco com um peso nunca visto em um álbum do Kiss. Composta pelo trio Gene/Vallance/Bryan Adams, tem uma boa letra e um belo riff, bem heavy mesmo. O solo tem todo o jeito de ser de Vinnie.
Concluindo: é o meu disco favorito de todos os tempos, e minha ligação com ele vai além da questão musical: visualizo nele algumas lembranças de infância – lembro da época em que foi lançado, do poster do disco nas lojas Breno Rossi, e da turnê promocional no Brasil (e do programa especial que foi ao ar pela TV Globo). Mas foi um disco excelente lançado numa época desfavorável para a banda, pois os fãs, após 3 discos desacertados, já haviam abandonado a banda. Sabe-se que os shows no Brasil foram os últimos com máscara – e para a banda retomar o seu lugar dentre as grandes bandas de rock, não bastava lançar apenas bons discos: era preciso mais. Desligar-se do passado de excessos e excentricidades era medida que se impunha e isso passava por tirar as tradicionais máscaras e mostrar que a banda não estava mais para brincadeira.”
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