terça-feira, 1 de dezembro de 2009

CDs do Kiss - Parte IV "Destroyer" (1976)


Após o extraordinário e inesperado sucesso com o “Alive!”, o Kiss se viu diante da tarefa de lançar um disco de estúdio que mantivesse a banda em alta junto aos recém adquiridos fãs. Conforme Paul Stanley no “X-Treme Close Up”, as novas músicas deveriam ser mais do que simples canções de rock sobre festas e mulheres: impunha-se o desafio de escrever músicas sobre novas experiências. Aliados ao renomado produtor Bob Ezrin, os caras se desincumbiram com êxito da tarefa de registrar um disco clássico, o “Destroyer” de 1976.

Em setembro de 1993 já estava na fase de querer saber tudo sobre o Kiss, após ouvir com muita dedicação “Animalize”, “Alive III”, “Love Gun” e alguns bootlegs. Para o aniversário, ganhei da minha tia o dinheiro suficiente para comprar o “Destroyer” importado que tinha na Grammy Classic & Rock, quando esta loja ainda ficava na R. Fernando Machado.

Paul Stanley e Gene Simmons não perdem a oportunidade para enfatizar o quão importante e fundamental é/foi este “Destroyer”, sendo certo que eles frequentemente o apontam como melhor disco da banda (conquanto Gene já tenha dito que o seu preferido é “Creatures of the Night”). É possível que a dupla esteja certa, mas entendo despiciendo reproduzir quase todas as faixas no “Alive IV”, aquele com a orquestra da Austrália. Seja como for, “Destroyer” conta com quatro clássicos absolutos da banda e um punhado de boas composições.

Duas das melhores e mais conhecidas faixas do disco são de autoria individual de Paul Stanley:

(a) “Detroit Rock City”, um dos maiores hinos da banda, é a faixa de abertura. Tem ritmo acelerado, e se notabiliza pelos acordes estendidos por vários compassos dos versos, a levada de bateria atípica (e muito legal) em se tratando de Peter Criss, a linha de baixo atípica (e muito legal) em se tratando de Gene Simmons, e o solo de guitarra atípico (e absolutamente fantástico) de Ace Frehley (com harmonização de Paul na segunda parte). Parece-me que em todas essas partes houve “input” de Bob Ezrin. A música representa a ideia de Paul de compor sobre algo a mais do que festas e mulheres: a letra é sobre um fã que se prepara para ir a um show de uma banda, mas no caminho para o evento tem desfecho trágico. Há uma ironia por trás disso. Além disso, a estrutura e a execução são bastante diferentes do que todo o material registrado pelo Kiss nos discos anteriores;

(b) “God of Thunder”, uma das músicas mais identificadas com Gene, faz parte do set list até hoje. É curioso saber que um riff de guitarra tão bom e majestoso, executado bem lentamente, foi inicialmente pensado para ser tocado de forma rápida e “uptempo”; só ouvindo a demo de Paul na “The Box Set” que a banda lançou há uns 4 ou 5 anos para acreditar como seria essa música com o compositor nos vocais. A decisão de atribuí-la a Gene, reduzir o tempo, e adotar uma levada de bateria – digamos – marcial, coube a Bob Ezrin (que também foi o responsável pelos efeitos especiais). Custo a acreditar que o solo de guitarra é de Ace Frehley, pois não é nada típico do guitarrista.

Paul contribuiu, ainda, com “King of the Nighttime World” (em conjunto com compositores de fora da banda - um rock decente, mas nada memorável), “Flaming Youth” (em conjunto com Simmons, Frehley e Ezrin - na qual foram reunidas partes de outras músicas incompletas de Gene, Paul e Ace; acredito que o riff de guitarra que vem depois do refrão foi mal aproveitado... é muito bom e poderia ser o riff principal de alguma outra música que ficaria melhor do que a que prevaleceu no disco; nessas condições apareceu na caixa “The Box Set” como uma demo de Gene, “Mad Dog”), e “Do You Love Me” (uma das obscuras que ganhou espaço no set list da turnê da época e reproduzida no “Alive IV” e no “MTV Unplugged” – acho que essa música é boa, mas recebeu atenção maior que a merecida; em todo o caso, a melhor versão é a que aparece no vídeo “Kiss My Ass”, com a formação original em 1977).

Gene compôs faixas medianas como “Sweet Pain” (até hoje Ace Frehley reclama que seu solo de guitarra foi deletado sem seu consentimento pelo produtor, que optou por um solo de Dick Wagner, da banda do Alice Cooper), e “Great Expectations” (acho legal a letra que trata da relação entre fã e artista).

Gene e Paul compuseram conjuntamente “Shout It Out Loud”, que é outro clássico indiscutível da banda. Muito boa é a divisão entre as partes de vocal principal entre a dupla: Paul inicia os versos sobre uma base com os acordes A e D; Gene é responsável pela parte que seria um pré-chorus, sobre uma base típica de rock´n´roll Chuck Berry. O refrão é bombástico e acho curioso que ao final as notas decrescem, dando um efeito incomum.

Peter Criss foi o responsável pela outra faixa clássica e muito conhecida da banda, a balada “Beth”. Aparentemente trata-se de uma composição do baterista em parceria com integrantes da banda que ele tinha antes de ingressar no Kiss (e que lhe ajudariam bastante no seu disco solo de 1978), e até hoje não tenho esclarecido a razão de terem optado por registrá-la em “Destroyer” (na Wikipédia consta que foi a última adição ao disco e que o foi por insistência do empresário da banda na época, Bill Aucoin). Em todo o caso, Bob Ezrin se encarregou da orquestração, a la George Martin, e a música compôs o lado B do single de “Detroit Rock City”. Paul já referiu que as rádios optaram por tocar “Beth” ao invés de “Detroit Rock City” e o resultado foi um grande sucesso de uma música que em nada lembra o material típico do Kiss. Independentemente disso, a música é muito boa, com melodia bacana, excelentes vocais de Peter, e orquestração adequada.

Se não for o melhor, “Destroyer” é o mais importante álbum de estúdio do Kiss, consolidando o sucesso alcançado com “Alive!” e projetando um futuro de maior banda de rock da época. Pouco depois, no entanto, os caras já estavam em estúdio para gravar outro disco, que eventualmente se chamou “Rock and Roll Over”.

Um comentário:

Anônimo disse...

O disco que consolidou o KISS como mega-banda, sem dúvida! Embora, pessoalmente, não o considere o melhor da discografia (dessa fase inicial prefiro o "Kiss" e o "Hotter Than Hell"). Obviamente a produção de Bob Ezrin ajudou muito, mas acho que ele exagerou em alguns momentos. "Detroit Rock City" (deve ser Top 3 da banda - junto com "RnRAL" e "Love Gun" - nunca mais saiu do setlist) é o destaque mais conhecido. Pessoalmente, considero "God Of Thunder" a maior obra-prima do álbum. Riff maravilhoso, ao melhor estilo Tony Iommy (foi Paul quem criou?), Ezrin acertou na ambientação, Gene cantando sombriamente, enfim, tudo contribui para a perfeição, até o solo abafado no meio.

Mas tem algumas faixas mais fracas e meio exageradas ao meu ver.

Mas é um grande disco! Dou nota 8,5 pra obra!

Belo texto!

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