Em 1977 o sucesso do Kiss em sua terra natal era tão forte que os caras e a gravadora se sentiram à vontade para lançar mais um disco ao vivo, almejando repetir o êxito de “Alive!”. Se este contava com o repertório baseado nos três primeiros discos, para “Alive II” a banda utilizou os três discos lançados desde então, e ainda agregou faixas novas gravadas em estúdio. Ainda que não tenha se tornado tão bem sucedido quanto o primeiro, o segundo disco duplo ao vivo é ainda considerado um clássico da banda. Sabe-se que o Kiss gravou shows no Japão da turnê de “Rock and Roll Over” para o lançamento de um disco ao vivo, mas eventualmente se optou pelo arquivamento do projeto e o ingresso em estúdio para a gravação de mais um disco de inéditas em 1977, que viria a ser o “Love Gun”.
As lojas de CDs costumavam prestar um grande serviço em época pré-internet: mediante encomenda, os caras gravavam de um dia para o outro numa fita k7 os CDs disponibilizados para venda. Era um excelente recurso para quem não podia comprar todos os CDs que quisesse, e mesmo servia para conhecer álbuns só lançados no exterior, sobretudo os importados e os bootlegs. Assim, pedi para uma loja que ficava na R. Fernando Machado e agora está na Gal. Chaves o “Alive II” e o “Ace Frehley”, no Natal quente de 1993. E lembro que gostei bastante dos dois discos. Eventualmente, comprei numa loja de CDs de uma grande rede local que ficava perto do supermercado do Praia de Belas em 1996 por um bom preço para um importado (pouco mais que um disco simples – jamais vi o disco lançado em CD nacional).
No caso do “Alive II”, já estava familiarizado com parte do repertório. Entre conhecidas e desconhecidas, curti muito “Makin´ Love” pelo riff, pela levada faceira da bateria, e pelo refrão. Acredito que essa é a versão definitiva dessa faixa do “Rock and Roll Over”.
Ace Frehley manda muito bem em “Shock Me”, e ao final há espaço para o seu solo de guitarra. Mesmo não contando com os elementos visuais da apresentação ao vivo (fumaça pelo captador da guitarra, além dos “tiros” a partir do braço do instrumento), o solo de guitarra é memorável por conter uma série de licks posicionados de forma início-meio-fim. Trata-se do melhor registro de solo de guitarra de Ace e parâmetro para aferição dos demais.
Peter Criss canta em duas faixas: “Hard Luck Woman”, uma das minhas favoritas, ganha uma versão decente e muito parecida com a de estúdio; e “Beth”, que é sua marca registrada. O baterista se destaca, no entanto, pela excelente performance na maior parte das faixas; o cara realmente estava no ápice da forma musical, e isso fica evidente logo na abertura com a levada rápida de "Detroit Rock City".
Algumas faixas me parecem fracas, apesar de ser bom tê-las em versão ao vivo em todo o caso: “Ladies Room”, de Gene, “Tomorrow and Tonight” e “King of the Nighttime World”, de Paul. De outro lado, uma das minhas favoritas é “I Stole Your Love”, e jamais ouvi versão ao vivo que superasse a de estúdio, notadamente pelos vocais e pelo próprio destaque do som das guitarras. “God of Thunder” tem espaço para o “solo” de Gene Simmons (no qual cospe “sangue” e é elevado para uma estrutura bem alta no palco) e a banda executa a música em alta velocidade (mais parece a versão demo original de Paul do que a original de “Destroyer”).
O chamado “lado quatro”, ou lado B do disco 2 (na época do vinil) é composto por músicas registradas em estúdio: um cover (“Anyway You Want It”) e quatro originais. Para fins de Kisstory esse registro é importante, pois deu andamento ao início do fim da formação original. Afinal, Ace Frehley só contribuiu com suas guitarras na faixa de sua composição (a excelente “Rocket Ride”, com belo riff, vocal competente, solos de guitarra muito legais, e até um acelerado solo de bateria de Peter Criss); em todas as demais, os solos de guitarra foram gravados por Bob Kulick. Das inéditas remanescentes, a melhor é "All American Man", por todos os riffs de guitarra, e pelo solo de Kulick, no qual há um lick com um truque que permite guitarras com ponte fixa soarem como guitarras com ponte móvel (alavanca): o cara faz repetidos hammer-ons e pull-offs nas casas 12 e 15 da 2.ª corda (B) e com a outra mão pressiona a corda perto das tarraxas, simulando uma alavancada para cima, elevando a altura das notas.
“Alive II” é um bom registro de uma banda no auge da fama e marca o início da transição para a fase seguinte, de dissolução da formação original.
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