Das bandas da new wave of American heavy metal, a que tenho acompanhado mais de perto é Lamb of God. Notei que todas as bandas desse estilo (Slipknot, Mastodon, Trivium, Lamb of God) estão refinando seu som nos discos mais recentes. Assim, se os primeiros discos dessas bandas – tidos como referência no gênero – são, no meu caso, difíceis de ouvir (às vezes, tanto peso e agressividade nas guitarras e nos vocais são duros nos ouvidos), os discos mais recentes estão sendo do meu agrado (por exemplo, Slipknot está adotando vocais mais melódicos e solos de guitarra, sem prejuízo dos riffs destruidores). O Lamb of God já havia baixado um pouco a bola em “Sacrament”, num disco com riffs em formato de música com início, meio e fim, e o resultado foi muito bom (sobre “Sacrament” escrevi há uns meses atrás aqui). Para “Wrath”, no entanto, os caras resolveram simplificar as coisas e alegadamente deixaram de seguir a tendência das várias camadas de guitarras do disco anterior: isso facilita na hora de executar as músicas ao vivo, pois se ouvem apenas os quatro instrumentos e a voz (entretanto, isso não vale para as primeiras duas faixas do disco, conforme adiante). Além disso, ao timbre das guitarras foi dado tratamento mais rústico, sem tanto ganho na distorção, forçando os guitarristas a tocarem com mais força sobre as cordas.
Tenho ouvido bastante “Wrath” há um mês. Definitivamente, não curto os vocais de Randy Blythe; o que vale são as guitarras de Mark Morton e Willie Adler. Os caras utilizam exclusivamente afinação dropped-D, só que de maneira diversa da grande maioria (dentre as quais me incluo) que se vale da afinação para executar riffs com Power chords nas cordas mais graves. Morton e Adler compõem riffs complicados e rápidos, muitos dos quais com saltos enormes que exigem grande abertura da mão esquerda. É nessa técnica que tenho centrado atenção.
Destaco “The Passing”, “In Your Words”, “Set to Fail”, e “Grace” como as melhores faixas de “Wrath”. (a) “The Passing” é a faixa de abertura e se trata de um dedilhado muito caprichado (não é complexo, mas tem alguma sofisticação) em violão de cordas de aço ao qual vão sendo agregadas camadas de acordes de guitarras e temas harmonizados. Ao final segue-se (b) “In Your Words”, que começa tipicamente porrada na orelha. Os riffs dos versos (são dois diferentes) contêm notas inusuais do tipo que só uma boa tablatura para entender o que os guitarristas estão tocando. Há o tradicional interlúdio com riff cheio de pausas e o destaque é os minutos finais, nos quais os guitarristas demonstram uma certa influência de metal progressivo, digamos assim (talvez seja um discurso de marketing positivo quando Morton afirmou que a composição de “Wrath” se inspirou em “Rust in Piece” e “...And Justice For All”).
A melhor faixa do disco é (c) “Set to Fail”, com estrutura bem certinha tal qual “Redneck”, mas tanto quanto uma cacetada de peso e um riff matador e criativo na escolha das notas (a nota final, com vibrato Iommi, alterna a cada compasso). É uma das poucas com solo de guitarra convencional. “Grace” conta com uma bela e complicada introdução com guitarras limpas, uma fazendo acordes e a outra executando padrões em escalas, mais ou menos como em algumas partes de “One” do Metallica e no meio de “Trust” do Megadeth. O trabalho das guitarras é realmente primoroso nessa faixa, e lá pelas tantas a introdução é revisitada, só que dessa vez com apropriada distorção, sendo certo que assim como “The Passing” contém um tema de guitarra muito legal (Morton encaixou um arpejo com sweep picking para agregar dramaticidade nessa parte).
Desde que comecei a ouvir Lamb of God, fiquei com a sensação de que se tratava de uma banda que tocava o som do Pantera, sobretudo pelos grooves e pela interação bateria e guitarras, além dos vocais gritados. Só que o Pantera era uma banda com som muito mais diversificado (o vocalista sabe cantar, por exemplo) e as músicas são mais diretas (“Five Minutes Alone”, “I´m Broken”, dentre outras, têm estrutura familiar de verso-ponte-refrão, e os riffs principais se destacam naturalmente). A contrapartida é que o Pantera tem muitas músicas ruins, parecendo o resultado de jams não inspiradas e desconcentradas (o álbum “Far Beyond Driven” é repleto de faixas desse tipo). O Lamb of God, por sua vez, é do tipo que manda ver um bloco de músicas que a um ouvido desatento poderia parecer que se trata de uma música só. Entretanto, é um heavy metal de boa qualidade. Então, uma simplificação bem rasteira seria dizer que o Lamb of God é o Pantera nos seus melhores momentos (mas não nos seus momentos top ou Premium tipo “Mouth For War”, “Cemetery Gates”, “Cowboys From Hell”, “Five Minutes Alone”, “Becoming”, “I´m Broken”, “War Nerve”, “Drag the Waters”, “Yesterday Don´t Mean Shit”).
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