Para um ouvido acostumado com as grandes bandas de heavy metal dos anos 1970 e 1980, é difícil acompanhar o som das bandas novas que surgiram a partir de 2000. Quase passei batido pelo nu-metal, e desde o último par de anos comecei a dar atenção às bandas que formam a nova onda do heavy metal americano. Nesse sentido, a melhor revista de guitarra do mundo, a Guitar World, tem dado um auxílio inestimável: recentemente, joguei no youbute os nomes das bandas citadas na revista para conhecer o som e, enfim, ver qual é dos caras. A grande maioria, no entanto, não impressiona. Seja como for, das bandas que já conhecia de nome, notei um certo padrão, além do fato de que nenhuma dessas bandas teve, até recentemente, CDs lançados no Brasil: os primeiros discos foram muito bem recebidos, mas para mim são duros de ouvir, em razão do peso das guitarras e dos vocais do início ao fim. Há que ter balanço e diversidade num álbum, sob pena de comprometer a audição, embora alguém possa argumentar que se trata de coesão do material composto. Enfim, o que me importa é que os discos mais recentes dessas bandas caracterizam-se por uma espécie de evolução: a banda deixa de lado alguns de seus elementos primitivos e parte para a agregação de outros, tornando o som menos duro. O Slipknot, por exemplo, incorporou solos de guitarras e adotou vocais mais melódicos. O Lamb of God, por sua vez, está fazendo músicas com os riffs.
O Mastodon é das bandas novas que tive grande curiosidade devido às descrições de que os caras tocavam heavy metal com toques de progressivo, jazz e fusion, com andamentos quebrados e bateria ocupada o tempo inteiro. No papel isso é muito interessante, mas as audições dos mp3 não agradaram. Recentemente a banda lançou, então, um disco que os próprios caras admitem terem dado uma maneirada no som, adicionando melodias e tudo mais, sem prejuízo do peso das guitarras. Pelo só fato de “Crack the Skye” ter sido lançado no Brasil em CD – apesar do preço extorsivo – trouxe para casa da Cultura.
A primeira noção é a de que, de fato, Mastodon não é uma banda comum de heavy metal. Há peso nas guitarras, e as guitarras fazem coisas complicadas e diferentes uma da outra, mas não há riffs convencionais (ou melhor, custam para aparecer riffs convencionais no decorrer das faixas). Em “Crack the Skye” há uns 4 ou 5 riffs que poderiam ser chamados de tradicionais, do tipo que eu poderia tirar na guitarra em casa. O resto todo são dedilhados inusitados, notas rápidas, acordes atípicos, sob os quais a bateria quebra o andamento com frequência. Particularmente, serve-me para abrir a cabeça e procurar ideias criativas e sem precedentes.
Além dos trabalhos da guitarra e da bateria, acrescente-se o fato de que em “Crack the Skye” os vocais são divididos entre um guitarrista, o baixista e o baterista. As letras são do tipo “viajantes”, e aparentemente os caras seguem um tema a cada disco (ar, água, fogo e terra).
Todas as faixas têm bons momentos, e me parece que a audição da íntegra do álbum, conquanto não totalmente pacífica, é recompensadora. Costumo ouvir as primeiras três faixas, e estou curtindo esse disco com o passar do tempo, à medida que me familiarizo com as diversas partes das diversas músicas. Uma coisa, porém, é certa: o riff dos versos de "Divinations" é espetacular.
Um comentário:
esse álbum realmente necessita ser ouvido várias vezes para ser assimilado, mas ele é bem legal. quanto à tendência que vc destacou é realmente perceptível essa mudança de sonoridade empreendida por bandas surgidas última década, muitas delas resgatando sons do passado, utilizando elementos clássicos como solos de guitarra, que por sinal eu os adoro (desde que sejam bem feitos)
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