sábado, 24 de abril de 2004

Fórmula 1 - 1986

- nesse feriado de Tiradentes aluguei na Espaço Vídeo um documentário sobre a temporada de Fórmula 1 do ano de 1986, vencida por Alain Prost. Sabidamente, sou fã de F1 desde a mais tenra infância, de modo que tenho lembranças vivas de alguns momentos das temporadas dos anos 80. Mas a experiência de ver esses vídeos das temporadas passadas é ainda mais impressionante hoje em dia, em que os campeonatos andam unilaterais (só o Schumacher ganha). Em 1986 as coisas eram muito diferentes.

Com efeito, a McLaren-Porsche era a melhor equipe, e tinha o campeão do ano anterior Prost, ao lado de Keke Rosberg. A Williams-Honda, por outro lado, tinha o melhor carro e uma dupla brilhante: Nigel Mansell e Nelson Piquet. A Lotus-John Player Special-Renault despontava com o Ayrton Senna (ao lado do inexpressivo Johnny Dumfries). A Ferrari não era de nada, com Michele Alboreto e Stefan Johansson. A recém criada Benetton (adquirira a Toleman) tinha Teo Fabi e o novato à época Gerhard Berger. A Ligier-Renaul, com René Arnoux e Jacques Laffite, assim como a Lola-Hart com Patrick Tambay e Alan Jones ainda são dignos de comentários. Nota-se, de pronto, a grande qualidade e quantidade de carros competitivos e pilotos de ponta.

Em 1986, Senna conquistou a maioria das poles. As corridas eram bastante disputadas - claro que sempre havia o líder que ficava alguns segundos à frente dos demais, mas nada que tornasse as corridas previsíveis. Aliás, os abandonos por quebras de motor e falhas mecânicas eram mais freqüentes, sem contar que os pneus não eram muito duráveis, forçando paradas nos boxes seguidas.

Nessa temporada que se registrou a segunda menor diferença entre o primeiro e segundo colocado - foi no GP da Espanha, o segundo da temporada, vencido por Senna com Mansell em segundo por 0.014secs. Outros momentos foram duas ultrapassagens memoráveis de Nelson Piquet: uma sobre Senna na Hungria (atrasou violentamente a freada na entrada da curva, saindo de lado como se fosse um kart, muito impressionante), e outra sobre Mansell em Monza (essa eu lembro perfeitamente - Piquet deu um "chega pra lá" no inglês). Outros fatos que eu lembro da época: o acidente na largada do GP de Brands Hatch, em que Jacques Laffite quebrou as pernas (a corrida só reiniciou mais de uma hora depois, devido à necessidade de esperar a volta do helicóptero que levara o francês ao hospital), e a morte do italiano Elio de Angelis, nos testes particulares da Brabham em Paul Ricard.

Vendo a fita, reparei que Keke Rosberg era mesmo bom piloto, pontuando, liderando e fazendo boas corridas, contrariamente ao que eu pensava, em que pese aquele ano fosse o de sua despedida dos circuitos. Um Momento Lucky Strike da temporada foi na Hungria, quando Piquet entrou nos boxes quando a equipe estava preparada para trocar os pneus de Mansell - a imagem mostra claramente a irritação de Patrick Head com a malandragem do brasileiro, que venceu a corrida.

O campeonato só foi decidido na última corrida, em Adelaide (Austrália), num lance de muita sorte. Três pilotos tinham chance: Mansell, que liderava com folga, Piquet e Prost, que só podiam pensar em vencer e tirar o inglês da corrida (na época a vitória valia 9 pontos). Senna havia saído da disputa na corrida anterior (Portugal). Prost não tinha o melhor carro, mas foi premiado pela regularidade - pontuou em quase todas as corridas.

Durante a temporada, a Williams, que tinha o melhor carro, se viu dividida entre Mansell e Piquet. O contrato deste último era para ser o primeiro piloto, mas a equipe de ingleses, capitaneada pelo projetista Patrick Head, tomou preferência por Mansell. Mas não havia uma tomada de posição definitiva - na pista não tinha essa de deixar o outro passar. Frank Williams, dono da equipe, tinha preferência pelo brasileiro, mas devido ao acidente que o deixou paraplégico, não se fazia presente às corridas, pelo menos até perto do final da temporada. Piquet, então, teve de lutar sozinho contra toda a equipe, e essa briga interna da Williams custou o campeonato de pilotos. A Williams, diga-se, é conhecida por não tomar preferência por tal ou qual piloto - o que interessa é o título de construtores.

Em dado momento da prova de Adelaide, o pneu Goodyear de Prost furou, mas como o piloto estava perto dos boxes, pode realizar um pit-stop oportuno. Entretanto, essa parada não prevista parecia ter expurgado do francês as chances do bicampeonato.

Logo em seguida, Rosberg também parou com seu pneu Goodyear furado. Outros pilotos com a mesma marca de pneu tiveram problemas. Quando Mansell teve o pneu explodido em plena reta, Piquet liderava e corria para o tricampeonato. Entretanto, devido aos precedentes na prova, e em atenção ao perigo de vida dos pilotos, a Goodyear comunicou a todas as equipes que entrassem nos boxes imediatamente para troca de pneus. Então se revelou a sorte do francês, que foi o único que não precisou parar. Piquet resolveu não arriscar, entregando a Prost a vitória e o título.

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