segunda-feira, 29 de março de 2010

CDs do Kiss - Parte XXI "Carnival of Souls" (1997)

Após os vários desdobramentos da turnê de “Revenge” e “Alive III”, o Kiss retornou aos estúdios para gravar um novo disco com material inédito; lembro de ler entrevistas de Gene Simmons para a Guitar World (quando não comprava, lia na antiga Siciliano do Praia de Belas) que algumas músicas já estavam prontas, dentre as quais “Carnival of Souls”. A expectativa de lançamento era para 1995/início de 1996, mas as negociações para o “MTV Unplugged” e finalmente a volta da formação original fizeram com que Gene e Paul Stanley optassem por engavetar o disco que veio a ser “Carnival of Souls”. É intuitivo, no entanto, que os fãs de Kiss fossem atrás de bootlegs com versões demo ou remixadas das músicas desse album; assim, em 1997, sem divulgação alguma que não uma ou outra entrevista coletiva, é que foi lançado “Carnival of Souls: The Final Sessions”. Lembro-me que Eric Singer se recusou a participar desse lançamento tardio, pois ficara revoltado com o retorno da formação original, e por ter sido colocada “de molho” a formação então atual; o baterista chegou a expressar que jamais tocaria novamente com Gene e Paul, e ironicamente não demorou para o cara ser o único a retornar (é o baterista até hoje, após Gene e Paul desistirem acertadamente de Peter Criss).

Em entrevista à melhor revista de guitarra do mundo, a Guitar World, Paul Stanley admite que “Carnival of Souls” é um disco equivocado, pois apesar de não ser ruim, é uma tentativa fracassada da banda tentar se mostrar antenada com o som do momento. Esse tipo de comentário é estranho de ouvir de Paul, sobretudo se considerarmos que o Kiss aderiu à onda da disco music em 1979/1980 (“I Was Made For Lovin´ You” foi composta exatamente para mostrar que Paul podia escrever músicas disco), e ainda perfilou junto com outras tantas bandas de hair metal nos anos 1980, sem contar o “The Elder”, que representou a tentativa da banda de ter o seu “The Wall” com o mesmo produtor Bob Ezrin. Em todo o caso, “Carnival of Souls” é um excelente disco do Soundgarden ou do Alice in Chains (particularmente, entendo que é um disco melhor do que os lançados por essas bandas que fizeram excepcional sucesso na primeira metade dos anos 1990). Conheço “Carnival of Souls” desde o seu lançamento, e assim foi só recentemente, quando ouvi “Superunknown” e “Badmotorfinger” que entendo o que o Kiss estava tentando fazer. Repito: acho que “Carnival of Souls” é um disco melhor, com melhores músicas e riffs, do que os citados da banda de Chris Cornell.

Li recentemente uma longa entrevista do Eric Singer para o Kiss FAQ, e sobre "Carnival of Souls" o cara concordou com a noção de que se trata de um bom disco, mas não de um bom disco do Kiss. Fato é que o baterista trouxe uma perspectiva interessante quando se queixou da mixagem de responsabilidade de Toby Wright. O raciocínio é de que se o disco é pesado, então a mixagem deve tornar as coisas estupidamente pesadas, e aí o disco seria grandioso e se colocaria bem entre (ou ao lado de) "Revenge", "Creatures of the Night" e "Lick It Up". Diz o baterista que o som das faixas básicas era monstruoso de bom. Ocorre que o produtor resolveu adotar uma mixagem alternativa, experimentando de certa forma, e aí o resultado final ficou a desejar. E é bem possível que Eric Singer esteja certo, pois, apesar de não ter nenhum conhecimento nessa área, sempre me pareceu que o som do disco tinha algo de diferente, e digo diferente de maneira desconfortável.

Na época, pareceu-me natural que a banda investisse em um som pesado, face ao sucesso com o qual foi recebido “Revenge” e o “Alive III”. Mas o peso não se restringiu aos riffs e à estrutura das composições: a afinação de quase todas as faixas é meio abaixo (Eb-Ab-Db-Gb-Bb-Eb) com a sexta corda um tom abaixo (Db). Sabe-se que a afinação dropped-D favorece riffs bem pesados, do tipo que o Soundgarden costumava empregar em algumas de suas composições. O Kiss utilizou-se bastante das facilidades dessa afinação para construir riffs monumentais como é o caso de “Hate”, “In My Head”, “Jungle”, dentre outras.

Acredito que Paul Stanley tenha deixado Bruce Kulick gravar quase a totalidade das guitarras, e que Gene Simmons tenha atribuído a Kulick a tarefa de registrar grande parte das linhas de baixo, especialmente das composições de Paul. Afinal, não deve ser por acaso que Kulick é coautor de quase todas as faixas de “Carnival of Souls”, sendo que o precedente mais próximo nesse sentido é “Lick It Up”, no qual Vinnie Vincent foi coautor de quase todas as faixas (apenas duas foram composições exclusivas de Gene). Entendo que Kulick fez um excepcional trabalho.

“Carnival of Souls” é um belo disco, mas admito que a sua audição pode não ser das mais pacíficas no início. Afinal, não é um disco regular do Kiss. A afinação é mais pesada, o clima das faixas é mais sombrio, e até os solos de guitarra são menos marcantes do que estamos acostumados com Ace Frehley, Vinnie Vincent e o próprio Kulick. Aqui, vê-se extensa utilização de barulhos e notas inusitadas mediante alavancadas (dá-lhe Floyd Rose), muita distorção e efeitos de pedal wah-wah. Os solos de guitarra, portanto, não são convencionais: o solo começa, e eu fico esperando que uma hora vai começar a debulhação de notas, mas aí após alguns bends, alavancadas e outros recursos guitarrísticos que não identifico, o solo encerra e a música volta para um pre-chorus, chorus ou outro verso. Confesso que é um pouco desconcertante ouvir músicas do Kiss desse jeito, mas agora estou apreciando bastante, sobretudo em pesquisas sobre a utilização de wah-wah (Kulick é um dos expoentes em termos de guitarristas pouco apreciados e que mereciam maior exposição – os chamados “underrated”).

Se “Revenge” começava com uma composição de Gene (“Unholy”), natural que “Carnival of Souls” inaugurasse com outra do baixista: “Hate” é típica, e provavelmente é a melhor do disco. O riff é matador, todo na 6.ª corda, mas a escolha das notas é primorosa. Sabendo-se as notas e fazendo-se os hammer-ons e pull-offs corretamente, o riff é muito bom de tocar.

Gene conseguiu compor um baita refrão para “Childhood´s End”, com auxílio de Kulick e de Tommy Thayer. A faixa tem os versos com guitarra limpa executando acordes e me parece que o baixo é do tipo fretless, ou pelo menos o timbre é bem parecido. Foi empregado um coro de crianças para cantar o refrão ao final da música, e isso é indicação de que o projeto era levado bem a sério durante sua execução.

Gosto muito de “In My Head”, que é uma paulada na cabeça de Gene, com uns andamentos quebrados e levadas cortantes de Eric Singer. Os vocais são muito bons. Bela música de heavy metal.

Há melodias em “Seduction of the Innocent” e em “I Confess”, que não são músicas tão pesadas. Assim, percebe-se que das faixas de Gene, apenas duas são bem pesadas – as demais têm tom grave, mas as melodias prevalecem.

“Rain”, de Paul, é basicamente sobre um andamento 7/8 com efeito cortante no final do compasso. “Master & Slave” conta com o melhor riff do disco, muito bem construído sobretudo na virada final antes da repetição. Essas duas músicas são cantadas por Paul de um jeito bem diferente do qual estamos acostumados, com vocal mais baixo. “Jungle” também tem um belo riff e “I Will Be There” é a única balada do álbum, executada em violões afinados bem grave e um baixo fretless. Nesta os vocais são graves no início, e depois Paul solta a voz. O solo de violão de Kulick é preciso como de costume – o cara estava em excelente fase. “It Never Goes Away” e “In the Mirror” (ambas compostas por Stanley, Kulick e Curtis Cuomo, assim como o fora com “Jungle”, “Rain”, “Master & Slave”, “I Will Be There”) são menos marcantes.

Quanto nem esperava o lançamento em mercado nacional, encontrei o disco nas Americanas do Centro por um preço bem tranquilo em meados de 1997 (essa cadeia de lojas é cíclica em termos de disponibilizar CDs bons por preços baixos – nos últimos tempos está ruim de negócio, mas acredito que daqui a alguns meses voltará a valer a pena a visita).

domingo, 28 de março de 2010

Ensaio URSO - Parte Ia session (27.03.2010)

Sessão URSO (guitarras e bateria de "All Black" - 27.03.2010)
Depois do primeiro ensaio da URSO, o Valmor e eu tratamos de combinar as estruturas das 12 jams resultantes. Em casa, gravei os riffs de quatro faixas no POD Farm utilizando o mesmo timbre do amplificador Soldano do ensaio, só que com a EQ do preset, o que conferiu maior peso às guitarras. Aparentemente não houve problemas sérios de atrasos na gravação dos riffs, tanto que o Valmor conseguiu aproveitar todas as partes de "All Black" para fazer uma linha de bateria que serviria de guia. O cara não se segurou e inseriu uma parte quebrada para uma espécie de riff de transição, com instruções para que fosse algo System of a Down, com escalas exóticas. Só o que me ocorreu foi um riffão pesado com notas soltas, aproveitando as quebradas da bateria. Encontramo-nos no sábado, 27.03.2010, na casa dele, para discutir mais essas ideias. Ficamos trabalhando sobre a "All Black" e chegamos a várias conclusões. A ideia inicial do Valmor não funcionava adequadamente, então toquei o riffão sem muita quebradeira. Fiquei satisfeito em saber que o riff principal, remotamente inspirado em King Crimson, era em 6/8 (embora seja passível de acompanhamento em 4/4), e conseguimos desenvolver uma parte sobre uns acordes tocados nota por nota com as cordas abafadas em 7/8 e 9/8, segundo contagem do Valmor. Fiquei satisfeito pois obter esse efeito não é nada difícil, seguindo-se adequadamente o sentido das palhetadas (para cima e para baixo). Acho que conseguimos montar uma estrutura boa, embora me pareça que o maior desafio (e isso deverá se repetir em todas as outras faixas) seja o de recriar a espontaneidade e a beleza do ensaio original. Particularmente achei muito melhores as versões do ensaio, inclusive e sobretudo as levadas de bateria e a sucessão dos riffs e acordes. Embora tenhamos gravado o mais "live" possível (primeiro uma guitarra guia, depois a bateria do Valmor, depois duas dobras de guitarras sobre a linha de bateria, com overdubs apenas nos erros de guitarra e bateria), no ensaio as transições haviam sido todas muito mais certas e oportunas. É a tarefa de fazer com que jams se transformem em músicas. Abaixo segue o que resultou de "All Black" ao final da sessão:



Antes de encerrar os trabalhos, no entanto, conversamos brevemente sobre uma das que tinha gravado em casa (com introdução de acordes climáticos, um riff pesado e repetitivo com várias versões, e os acordes melódicos que foram inventados no primeiro ensaio), e o Valmor sugeriu um riff diferente, com utilização mais enfática da 6.ª corda solta. Registramos esse riff e o Valmor mandou, mais além, sua sugestão de estrutura com inclusão de todas essas partes. Ficou legal, mas acho que quando tocarmos os quatro essa música, provavelmente se imporá a repetição de alguns riffs e partes. Segue o resultado, por ora:



Fotos do ensaio

sábado, 27 de março de 2010

Ensaio The Osmar Band - "Dreiunddreissig" 25.03.2010

33.º ensaio The Osmar Band - 25.03.2010
Após o apito final do jogo do Grêmio contra o Novo Hamburgo pelo Gauchão 2010, corri para o bunker a fim de pegar o ensaio da Osmar Band. Sem poder contar com o meu equipamento, me vali da PRS SE Custom, a pedaleira Boss e o violão de cordas de aço Yamaha. Ocorre que a umidade do bunker tem atuado sobre a pedaleira de modo que os comandos que definem a distorção foram prejudicados e o resultado é que de maneira imprevisível e inoportuna os efeitos são mudados aleatoriamente (fat dist, e outras dist disponíveis). Depois de algumas músicas, resolvi desencanar e tocar sem maiores preocupações, mas não perdi a oportunidade de assumir o violão quando pude. E o violão tem um timbre muito legal, que estimula a fazer dedilhados e a tocar acordes abertos. Quando cheguei os caras estavam revisitando algumas das antigas para quem sabe incorporar no repertório. Tocamos algumas vezes uma com um riff Rolling Stones e com refrão A-C-D. O Marcelo ponderou que não podíamos deixar de fora o primeiro clássico da banda, cuja letra diz respeito a um figura singular que eles conheceram há muitos anos. Essa é a música mais complicada da banda, com características autenticamente progressivas ou de jazz, cheia de acordes inusitados para guitarristas (não para tecladistas e jazzistas). Consegui apanhar apenas o Eb, o Ab, o Gm e o Fm (às vezes eu tocava G e F, ou Gm e F – alguns vícios de guitarrista são difíceis de superar), mas quanto mais tocávamos, mais o Alemão lembrava de outros acordes e passagens (F#, entre outros), então as coisas realmente ficaram difíceis pra mim. O tempo dos compassos e da duração dos acordes são imprevisíveis, então acabei lá pelas tantas tentando apenas tocar umas notas isoladas, para achar alguma melodia. Consenso foi de que essas versões foram mais bem executadas que as originais. Acabamos com uma cuja letra já conhecia, mas que parece que é do tempo anterior ao meu ingresso. Nos arquivos não havia duas versões iguais, e sim umas 3 ou 4 completamente diferentes. Fizemos outras, tão diferentes quanto, e os acordes seriam Am e Dm e G, embora isso ainda possa ser questionado (inclusive se não caberia um E). Não deixamos de tocar a introdutória (numa versão diferente), a clássica do meu primeiro ensaio com os caras (numa versão bem diferente), e a que mais curto, aquela com sotaque do centro do país. Ouvindo as músicas antigas ficou claro para todos o quanto se evoluiu musicalmente, ao ponto de que quando ouvimos o CD do repertório gravado pelo Marcão no carro, as pessoas reagem positivamente (“não imaginava que era tão legal”).











quinta-feira, 25 de março de 2010

Ensaio The Osmar Band – “Zweiunddreissig” 18.03.2010

Definido o repertório, o Marcão se dedicou a selecionar algumas das melhores performances e gravar CDs para que todos pudessem dominar as composições, e aperfeiçoar os ensaios. O Marcelo apontou que o ensaio anterior não foi dos mais inspirados, ao que o Marcão ponderou que se tratava da primeira vez que tocamos 10 músicas na sequência, sem colocar muito pensamento nas execuções. Sob sugestão do Marcelo, para esse ensaio tocaríamos metade do set list, tentando acertar o máximo possível de pendências. O Marcão lembrou ainda que o baixo poderia ser empregado em algumas músicas; de fato, essa era uma ideia que eu tinha, de além do set list, eleger quais instrumentos o Alemão (teclado ou violão) e eu tocaríamos (guitarra, baixo ou violão). Além disso, estamos tentando nos pautar em relação à duração das músicas, estabelecendo limites para as “viagens”. Para cada música dedicamos no mínimo duas versões, chegando a três em alguns casos. Então foi um ensaio do tipo “hard work”. Ando praticando bastante em casa alguns exercícios de palhetada alternada, e acho que estou um pouco mais confortável com a guitarra. Assim, desde logo, empreguei o wah-wah em toda a música introdutória da banda e tentei criar uns licks e melodias marcantes. Nas demais fizemos ajustes: n.º de repetições, n.º de versos, quando entra o solo, quem sola, mudanças de partes e finalizações. Muito importante foram as convenções com o Marcão, que vai ditar todas essas mudanças com rolos na bateria, chamando a atenção de todos e facilitando o ingresso simultâneo em nova parte da música. Acho que conseguimos acertar aquela na qual o Alemão toca acordes G e C9 no violão, com letra impublicável do Marcelo (na verdade, a letra está publicada no blog da banda, que o Marcelo prometeu atualizar). Da mesma forma, ajeitamos uma com letra hilária sobre uma importante personalidade do meio político nacional, e tivemos tempo para criar uma dinâmica muito boa: a introdução é calma, com dedilhados em Bm e A, mais ou menos como é a nossa versão para “Fear of the Dark” do Iron Maiden; depois o Marcão dá a dica para o ingresso de todos com mais agressividade, com os acordes sendo tocados “strumming”. A clássica desde o primeiro ensaio provavelmente vai contar com a minha contribuição no baixo, pelo que pude conferir no CD. Uma outra em B-A-G-F# está praticamente dominada. Totalmente dominada está aquela com letra cantada com sotaque do centro do país, na qual faço um solo rock´n´roll na pentatônica de Am, pois tocamos a música em qualquer velocidade e andamento e via de regra sem erros significativos. No mais, relatos do show do Dream Theater e de como o tecladista da banda caminhou perto de onde nós ensaiamos.

















quarta-feira, 24 de março de 2010

Ensaio URSO - Parte I (22.03.2010, Music Box)

URSO com Pedro em 22.03.2010 no Music Box

A ideia surgiu a partir do encontro de no mínimo duas inquietações: a minha de voltar a tocar som pesado, e a do Valmor/Bruce de formar uma banda de som instrumental (um dos inúmeros projetos por ele idealizados). O cara, então, veio com a proposta: tocaríamos com mais dois colegas dele de trabalho: um baixista, o Brenno (Rita Lee) e outro guitarrista, o Andrio (Superguidis). Confiantes na química de jams que desenvolvemos no decorrer de mais de 10 anos de atividades da Burnin´ Boat, teríamos o acréscimo das viagens do Brenno e do Andrio. As ferramentas seriam duas Fender Stratocaster afinadas em drop-C (CGCFAD), um baixo de luthier com quatro pedais de efeito/distorção, e a batera. O lance da afinação das guitarras (um tom abaixo da afinação padrão, com a 6.ª corda dois tons abaixo dão um toque natural de peso e uma pegada diferente, contrastando com o timbre limpo dos captadores de bobina simples da Stratocaster, em relação a qual se diz que não suportam o som pesado do heavy metal, diferentemente dos captadores de bobina dupla de uma Gibson Les Paul), bem como o nome da banda - URSO - foram atribuídos pelo Valmor, Andrio e Brenno nas suas conversas preparatórias. Levamos mais de uma semana para achar espaço nas agendas, e enfim nos encontramos na segunda-feira, 22.03.2010, no Estúdio Music Box, que tem boa localização e conta com gravações de áudio e vídeo. Por sorte o Pedro/Pepe, que não via há muitos anos, estava disponível e curtiu todo o ensaio e sacou algumas fotos. Tive o primeiro contato com o Brenno e o Andrio muito brevemente antes de ligarmos os instrumentos. Mas tão logo o fizemos, compusemos a primeira música, inspirados por um riffão do Brenno. Desde pronto ficou justificado o nome da banda, que segundo o Valmor significa algo pesado, arrastado e preguiçoso. Particularmente curti tocar a Stratocaster com o timbre Soldano do PODxt, EQ flat (pouco mais para o bass, pouco menos para o treble) no amplificador Marshall que tinha no estúdio. O Andrio, mais curtido, de cara já tirou um baita timbre com sua Strato left handed e seus pedais custom made. E já nessa primeira música também ficou claro que o plano original havia funcionado, pois as duas guitarras não competiriam nem se sobreporiam nas jams: Andrio é responsável pelas melodias e licks, e eu faço as bases e toco os riffs e acordes, enquanto o Brenno manda ver nas linhas de baixo e o Valmor dá a dinâmica na batera, ora tocando rápido, ora devagar. Enquanto ainda estávamos nas tratativas para o ensaio, o Valmor e eu já havíamos trocado figurinhas com algumas ideias de riffs e acordes. Dentre estas aproveitamos apenas duas, uma minha e outra do Valmor. A minha, inspirada remotamente na faixa-título de um disco do King Crimson, ganhou uma execução vigorosa no ensaio. Foi a segunda música do ensaio e tão logo toquei o riff introdutório, todos entraram simultaneamente e o resultado foi uma paulada que jamais havia imaginado quando compus o riff e gravei no micro ouvindo nos headphones. A do Valmor, inspirada em Led Zeppelin e Pain of Salvation, foi executada mais além. O Andrio me deu a grata surpresa de contribuir com um belo riff estilo Iommi, ao qual prontamente aderimos. Tive oportunidade para acresentar uma parte com acordes, e ainda um outro riffão porrada, e acho que ficou uma das melhores músicas da noite. A quarta música derivou de mais uma levada do Brenno, e o riff que toquei me pareceu com o de "Addiction" do Glenn Hughes. Houve espaço para momentos mais calmos, e via de regra quem os trouxe foi Andrio, com dedilhados bem legais e apropriados. Se há uma coisa boa de aprender com o Led Zeppelin é essa de equilibrar momentos agressivos com outros mais sossegados, inclusive numa mesma música. Então calhou perfeitamente tocar com timbre mais limpo, embora eu tenha me limitado a baixar o volume da guitarra (o botão de volume da Fender funciona muito bem, cortando um pouco do ímpeto da distorção). Acho que aqui consegui encaixar uns acordes bem legais que acrescentaram bastante à jam e permitiram uma nova sequência de melodias do Andrio, que utilizou o botão de volume para criar aquele efeito Jeff Beck. Iniciei uma com uns acordes sinistros utilizando amplamente a afinação drop-C aos quais colei um riff pesado sobre a 6.ª corda, e aqui, lá pelas tantas, o Valmor fez exatamente o que eu esperava dele, que era alterar a dinâmica mudando a batida da bateria. Ao final desta, mais uma sequência melódica de acordes que ficou muito boa. Na próxima, quando a coisa andava para uma jam estilo "Home" do Dream Theater, o Valmor conduziu uma levada stoner (ou algo do tipo) que afastou completamente a referência. O meu riff talvez tenha ficado genérico e parecido com o da primeira jam, e tentei incorporar algumas partes com resultados variados. O Andrio criou uma melodia etérea e muito boa, a qual tentei inutilmente reproduzir a jam inteira, sendo obrigado, então, a acompanhar, com dedilhados variados nos power chords, o baixo do Brenno nas notas fundamentais. Na seguinte, o Brenno chamou com um riff tipo dançante mas sobre um tritono sinistro C-F#, que rendeu uns momentos que justificaram o nome da banda no peso arrastado e carregado, sobretudo quando me dei conta de utilizar a 6.ª corda solta, a 6.º corda na 6.º casa e a 5.º corda na 5.º casa. Quase ao final, o Brenno e o Valmor emendaram uma jam funky, e foi aí que os papeis se inverteram e eu fiquei improvisando umas melodias e o Andrio mandando ver nos acordes com timbre limpo. Foi brilhante essa mudança de clima, e aqui mais uma vez foi importante dar equilíbrio às composições, pois esta é bem mais fluida e leve que as demais. Curti bastante tocar notas soltas nas cordas mais graves - com afinação pesada - pelo timbre resultante, facilitado pela qualidade dos captadores. Ao final, acordes que em nada lembravam o início, mas que ficou muito boa. Por fim, o Andrio criou uma bonita sequência de acordes, a qual emprestamos diferentes climas - basicamente acompanhei as notas do baixo e as levadas da bateria com diferentes dedilhados nos power chords. Pareceu-me altamente promissor o resultado dessa jam; afinal, poderia ter sido um fracasso, mas conseguimos compor 12 músicas instrumentais de muito boa qualidade, com estruturas bem encaminhadas, e sem maiores esforços que não o de ligarmos os instrumentos e ficarmos com os ouvidos abertos uns em relação aos outros. Favoreceram dois fatores: a química de uma década de jams com o Valmor e o profissionalismo do Andrio e do Brenno; particularmente nunca havia tocado com músicos profissionais, e os caras demonstraram domínio completo sobre os instrumentos e sobre a música, o que me levou a crer que eles conseguem antecipar as notas dos riffs e acordes que estão sendo compostos instantaneamente. A banda já tem sítio no MySpace e em breve esse ensaio será objeto de pormenorizado escrutínio para a formatação das músicas. Como a duração das músicas ficou entre 5 e 9 min, e o mp3 que o Valmor me disponibilizou é de alta qualidade (e pesado, portanto), disponibilizo a primeira música do ensaio, logo abaixo. (excluído em nov/2011)

terça-feira, 23 de março de 2010

Discografia Deep Purple – Parte XVI “This Time Around: Live in Tokyo” (2001)

No início dos anos 2000 cheguei a adquirir o “Last Concert in Japan”, provavelmente na Grammy & Classic Rock da Gal. Chaves. O disco importado, aproximadamente 30 a 35pila, continha parte de show do Mark IV (Bolin, Coverdale, Hughes, Lord, Paice) no Japão. Por alguma razão achei que não valia a pena mantê-lo em casa, então inclui o CD em alguma troca ruinosa numa das bocas do disco. Pois agora, tantos anos depois, resolvi que era hora de comprar o disco duplo contendo todo o repertório daquela apresentação, com som melhorado (conforme o encarte): “This Time Around: Live in Tokyo”.

O repertório é o mesmo de outros bootlegs do período, inclusive já resenhados aqui, então me reporto às observações lá expendidas oportunamente. Nessas condições, o disco vale pela qualidade do som, pelas conversas de Coverdale com o público japonês (gosto de ouvir Coverdale e Hughes se comunicando com a plateia nessa época; um exemplo é quando Covedale anuncia “Wild Dogs”: “For the first time in Japan (pausa breve) Tommy Bolin is going to sing a song for you”), e também para fins “completísticos”, como disse ao Valmor/Bruce no dia que comprei o disco na Cultura por pouco mais de 30pila.

segunda-feira, 22 de março de 2010

CDs do Kiss - Parte XX "You Wanted the Best, You Got the Best" (1996)


Na carona da volta da formação original, a gravadora e a banda aproveitaram para soltar mais uma coletânea, com a diferença de que esta conteria material do “Alive!”, do “Alive II” e de músicas dessa época não lançadas em tais discos. Então, além de faixas conhecidas como “Parasite”, “Rock Bottom”, “Firehouse”, “I Stole Your Love”, “Calling Dr. Love”, “Shout It Out Loud”, “Beth” e “Rock and Roll All Nite”, foram incluídas músicas excelentes como “Room Service”, “Two Timer”, “Let Me Know” e “Take Me”. Ocorre que essas músicas haviam sido rejeitadas à época (1975 e 1978) por terem sido consideradas impróprias para lançamento (diz-se que Paul Stanley estava descontente com os vocais registrados ao vivo para “Room Service”), então nessa oportunidade os caras resolveram entrar em estúdio para promover os retoques necessários. É por isso que o som do público parece artificial nessas faixas novas, e que a voz de Paul é tão diferente nessa “Room Service”, pois se trata de uma regravação de 1996 (aparentemente os instrumentos foram os registrados em 1975, mas os vocais são os atuais de 1996). Ao final foi incluída uma divertida entrevista da banda com Jay Leno. Particularmente, esse foi outro disco que vi na prateleira da “CD Express” em versão importada e adquiri imediatamente no começo das ferias de julho de 1996.

quarta-feira, 17 de março de 2010

Shows XXX - Dream Theater (Porto Alegre, Pepsi on Stage, 16.03.2010, 22h)

Há 15 anos ouço Dream Theater e já tive oportunidade, aqui, para discorrer sobre a discografia da banda, a qual tenho praticamente toda em casa (só me faltam um ou outro disco duplo ou triplo ao vivo). Nesses 30 shows que já assisti em Porto Alegre, acompanhei uma a uma grande parte das minhas bandas favoritas, e a lista das que restavam ia diminuindo. Desde sempre o Dream Theater ocupou o topo dessa lista, e apesar da banda já ter vindo umas 4 ou 5 vezes ao Brasil, sempre frustrou a expectativa de um show por aqui (os caras já tocaram em Curitiba, e depois Buenos Aires, que são as cidades mais perto). Pois, finalmente, o Dream Theater, ao anunciar a perna sul-americana da turnê do seu disco mais recente, "Black Clouds and Silver Linings", inseriu Porto Alegre na sua rota, em 16.03.2010. Finalmente, então, veria em casa uma das minhas bandas favoritas. E é por essa razão que não pensei duas vezes quando foi divulgado que o Guns´n´Roses, com Axl Rose e Cia, viria para a Capital no mesmo dia: vou no Dream Theater. Comprei ingresso no primeiro dia, ainda em dezembro, e aguardei o momento precioso.

O show do Guns, no entanto, foi tratado como o grande evento da noite. E não por acaso, a fila para comprar o ingresso da banda de Axl tinha 20 pessoas, e a fila do Dream Theater só tinha um cara, depois eu, e depois mais ninguém. Isso no primeiro dia de vendas. Nessas condições, com a simultaneidade de atrações, acreditava que o público do Dream Theater não seria tão expressivo. Além disso, conferi os set lists que a banda estava apresentando e fiquei pessimista: Mike Portnoy elegeu as músicas mais fracas dos discos mais fracos ("Sacrificed Sons" do "Octavarium", "Prophet of War" do "Systematic Chaos", "In the Name of God" do "Train of Thought", além de "The Count of Tuscanny" do "Black Clouds (..)". Independentemente disso, estava feliz simplesmente por ver a banda e me consolava o fato de que, eventualmente, assistindo os caras tocarem essas músicas ao vivo, poderia ver algum detalhe que me havia passado despercebido e, numa dessas, passar a curtir essas composições.

Seja como for, combinei com o Bruce/Valmor de se encontrar na entrada. O Barboza também se mobilizou para ir, além do Diego (Hibria). A produção local resolveu chamar Richard Powell para abrir os trabalhos, e Mike Portnoy foi o responsável por escolher uma desconhecida banda de Los Angeles, Big Elf, para acompanhar o Dream Theater nessa turnê latina. Assim, dirigi-me ao Pepsi on Stage às 19h e encontrei uma fila imensa, para minha surpresa. Parece-me que o local é apropriado para acomodar esse tipo de show, pelo acesso fácil e pelo estacionamento. No decorrer do dia soube da confirmação de que o Megadeth vai se apresentar por aqui, no mesmo Pepsi on Stage, em 26.04.2010, e não sei porque mas fiquei mais animado com a notícia de ver o Megadeth do que quando soube que o Metallica tocaria por aqui (na maior parte das vezes, curto mais o Metallica que o Megadeth, mas admito que é uma tarefa difícil dizer qual é a melhor banda). A minha lista de pendências realmente está diminuindo.

Foi muito fácil localizar o Bruce/Valmor, bem como o Diego. Um papo rápido porque a fila era grande. A minha era menor, mas estava parada. Uma vez lá dentro, conferi os produtos da "loja" e não me animei com as camisetas disponíveis. Ocupei o camarote que ficava à direita da mesa de som, de frente para onde ficaria o John Petrucci, e dali não mais saí pois suspeitei que se vacilasse perderia o lugar bom (um passo para o lado já ficava ruim, pois a visão era prejudicada pelos canhões de luz).

O Richard Powell fez um set curto, de umas 3 músicas, sendo que na quarta o cara mandou um cover de Van Halen, "You Really Got Me", que todos sabem que é um cover de Kinks. Provavelmente o cara estava nervoso pois errou muito na primeira música, mas pelo menos o cara teve o espírito esportivo de dizer o que devia ser dito: "também estou aqui para ver o Dream Theater, mas enquanto aguardamos, vou tocar umas músicas aí".

Uns 15min depois do fim do Powell, subiu ao palco a Big Elf ao som da marcha imperial de Star Wars. Os caras adotam visual anos 1960/1970 e o som de bandas dessa época, com riffs Black Sabbath (o guitarrista tinha uma bela Gibson SG), e sons de teclado Hammond, Mellotron e Moog, sem esquecer do baixo Rickenbacker. A primeira música foi muito boa, com umas guitarras bem legais. No resto a coisa ficou meio repetitiva, sobretudo porque já ouvimos todo esse som antes; a banda é boa, mas as referências são ouvidas o tempo todo, como bem enfatizou o Valmor/Bruce.

Pois bem, depois de mais de 30min de arrumação do palco, o Dream Theater finalmente abriu sua apresentação pouco depois das 22h. Como era esperado, os caras mandaram uma versão fidedigna de "A Nightmare to Remember". Acho os 5 primeiros minutos dessa faixa muito fracos: gosto de verdade dessa música, ao ponto de achar que se equipara com os grandes momentos da banda, a partir dos 5min, naqueles acordes com timbre limpo, pois há o melhor momento do disco respectivo ("Black Clouds (...)") no refrão "Beautiful agony" e tal. O vocal de James Labrie estava ruim no começo, mas não era culpa do cara e sim da equalização, acredito eu, pois não demorou e a voz estava perfeita para ser ouvida. Desde logo percebi que, verdadeiramente, o frontman da banda não é Labrie: não satisfeito em ser o melhor baterista de heavy metal e de rock progressivo (e, portanto, de metal progressivo), quem agita a galera é Portnoy, que se levanta da bateria e toca de pé algumas levadas mais básicas, pedindo a participação do público.







Havia uma esperança de que a próxima não fosse "A Rite of Passage". Afinal, o Dream Theater jamais se apresentou em Porto Alegre, e quando a banda visita uma cidade pela primeira vez, Portnoy costuma inserir no set list algumas das músicas mais clássicas para que os fãs vejam a banda tocar material importante mas que já foi executado exaustivamente em outras turnês. Entretanto, os caras mandaram "A Rite of Passage". Aí vem o fator "ao vivo": só vendo a banda "in the flesh" para reparar como funciona bem o refrão, que no disco achava bem metido a chiclete sem gosto. Além disso, achava anteriormente que um solo de Jordan Ruddess com um timbre esquisito era muito ruim, pois o som parecia com um sintetizador mal regulado, ou coisa do tipo. Pois esse solo é feito com o iPhone do tecladista, e aí é evidente que essa parte ficou muito legal: quem é que faz solo de teclado, num show de rock, com um iPhone?



Já sabíamos, a essas alturas, que não falaria a versão extendida de "Hollow Years". Particularmente, teria pensado em outra música do "Falling Into Infinity", mas de qualquer maneira foi muito legal ver a galera cantando a letra e o refrão com vontade, o que empolgou Labrie e os demais. Desprezei, no vídeo, o longo solo de guitarra introdutório de John Petrucci, para não ficar com um arquivo muito longo.



Do "Systematic Chaos" foi eleita "Constant Motion", que acredito ter funcionado perfeitamente por ser mais agitada (até então tinha expectativa negativa quanto ao número de músicas longas e lentas no set list).



Tudo indicava que Jordan Rudess faria seu solo de teclado e emendaria com "Prophet of War". No entanto, o cara mandou a introdução de "Erotomania", e a partir daí já sabia que o ingresso já tinha valido a pena, e também que o Valmor/Bruce teria perdido um baita show se não tivesse conseguido o ingresso com um contato qualificado. A banda inteira executou "Erotomania" sem esforço, e gostei bastante de ver o Rudess tocando quase todas as partes de quase todas as músicas com apenas uma mão (a direita ou a esquerda) e olhando para a galera, sobretudo nos refrões. "Erotomania" é a melhor música instrumental do Dream Theater e calhou perfeitamente nesse set list.





Sabe-se que no disco "Awake", após "Erotomania" vem "Voices" e nesse show não foi diferente. Os caras mandaram uma versão perfeita de "Voices" e foi aí que tive a prova de que os vocais de James Labrie estão em perfeita ordem e estado de conservação. Afinal, o cara desincumbiu-se plenamente da tarefa de recriar as melodias da versão de estúdio, embora não tenha me passado "in albis" o fato de que a música não foi executada na íntegra; ficou faltando aquela parte bem pesada e rápida (e legal), com uns versos "Death is sex, sex is death", e isso provavelmente se deve ao vocal mais alto nessa parte (ou Labrie não consegue cantar adequadamente, ou caso o faça perde a voz para o resto da noite). Independente disso, o momento "Erotomania/Voices" valeu o ingresso e foram momentos verdadeiramente emocionantes da noite.



Diferentemente da grande maioria dos presentes, não sou fã do disco "Scenes From a Memory". Provavelmente é uma deficiência minha, mas o fato é que não me abri para "The Spirit Carries On", apesar da boa melodia no refrão. Gravei com a Sony, mas não deu pra registrar tudo pois os comandos estão falhos.



A partir daí já não sabia exatamente o que ia rolar. Podia ser "In the Name of God", ou "Sacrified Sons". Acho que em nenhum show dessa turnê foi executada "As I Am". Pois apesar dessa não ser das minhas favoritas, acredito que foi uma baita sacada a inclusão dessa faixa pesada com refrão pegajoso e conhcido. Todo mundo curtiu bastante, e a execução foi primorosa, inclusive o complicadíssimo solo de guitarra de John Petrucci (o cara parece meio gordo, do tipo que vai explodir a qualquer momento, mas encontra-se numa incrível forma nas 6 cordas; acho que nenhuma música do show exigiu uma guitarra com 7 cordas, sendo certo, ainda, que não reparei nas trocas de guitarras - estas certamente aconteceram por causa das diferentes afinações, porém o modelo e a cor não variaram).



Na minha cabeça, qualquer coisa que viesse era lucro. Por um momento achei que os caras podiam emendar "This Dying Soul" ao final de "As I Am". No entanto, Petrucci trocou rapidamente a guitarra e já começou com "Pull Me Under", que é o maior clássico da banda. Aí já sabíamos que rolaria o medley "Pull Me Under/Metropolis Pt. 1", ambas do "Images and Words", e tivemos a confirmação da atenção que Portnoy dá às cidades que recebem pela primeira vez o Dream Theater. A banda toca "Pull Me Under", com perfeição, até o segundo refrão (melhor refrão do Dream Theater), e emenda com a parte instrumental insana de Metropolis Pt. 1. Lá pelas tantas, Petrucci e Rudess alternam solos de guitarra e teclado. O restante da parte instrumental é executada, e Labrie volta para cantar os versos finais. Convém enfatizar que Petrucci, antes da volta de Metropolis, executou as quatro primeiras notas do riff de "Sweet Child O´Mine", fazendo referência ao evento simultâneo na cidade; engraçado como todos identificaram a música com apenas quatro notas (e isso é prova de que se trata de um clássico do rock), seguindo-se uma grande vaia, e depois aplausos para Petrucci e para a banda, que provavelmente não esperavam uma reação negativa quanto ao Guns - fato é que a galera estava ali precisamente para ver o Dream Theater, e o público passou então a gritar o nome da banda e a aplaudir os integrantes, até que a música finalmente retomou. Labrie, na sua única manifestação para o público, brincou rapidamente com o fato.





Se eu já estava feliz por simplesmente vê-los ao vivo, mais ainda estava por tê-los visto tocar músicas do "Awake" e do "Images and Words" (quem sabe "A Change of Seasons" na próxima?). Uma breve despedida, e os caras voltaram para a última, "The Count of Tuscanny". Já tinha me programado que desceria para fazer fotos e vídeos nessa que não é das minhas favoritas. Pois tive a confirmação de que não é tão bom acompanhar o show da pista, e cheguei mesmo a me sentir baixinho no meio de tanta gente, o que é totalmente incomum para mim. Então filmei, tirei fotos, e bati um papo com o Barboza.



Não havia mais espaço para surpresas. "The Count of Tuscanny" é a última e fim de papo. Na saída, aguardando o Valmor/Bruce, consegui o contato com o grande Sávio, o melhor baterista que já vi tocar a uma distância de meio metro. Quem sabe dá pra agilizar um som pesado por aí. O Barboza passou e comentou que ainda dava pra ver o Guns... o Valmor disse o mesmo, de gozação, e parece que, efetivamente, dava pra assistir o Guns, pois a banda só entrou no palco às 1h50min, bem depois do final do show do Dream Theater (0h). Mas acho que não é necessário melhorar mais essa noite de Dream Theater. Aparentemente os caras curtiram a reação do público, e Labrie prometeu voltar. Portnoy falaria alguma coisa no microfone do Petrucci, mas o mesmo já havia sido desligado, e ficamos sem as últimas palavras do grande baterista.

Esse primeiro semestre de 2010 é o melhor da história de Porto Alegre: já vimos Metallica, hoje tivemos Dream Theater e Guns´n´Roses, e daqui a um mês teremos Megadeth.

terça-feira, 16 de março de 2010

Discografia Deep Purple – Parte XV “Days May Come and Days May Go” (2000)

Se as jams do Deep Purple nas apresentações ao vivo são parte dos melhores momentos de discos como “Made in Japan” e “Made in Europe”, bem como de todos os bootlegs com shows da banda, então seria natural que um CD com registros dos ensaios pudesse ser considerado magnífico. Lembro de ter lido algo sobre o lançamento de um CD com os ensaios do Mark IV após o ingresso de Tommy Bolin e antes do “Come Taste the Band”, e imediatamente fiquei instigado a ouvir o resultado, embora jamais pensasse que encontraria o CD em lojas, pois era do tipo que se vende em sites internacionais. Pois encontrei, pouco depois, em 2000, na Zeppelin da Gal. Luza e, embora o preço nada atrativo, trouxe para casa.

Diria que nem todas as jams do Deep Purple são são espetaculares... bem vistas as coisas, percebo que as jams que apareceram nos discos ao vivo não prescindiram de ensaios prévios e combinações instantâneas, de maneira que não se pode achar que tudo era criado magicamente na hora, ou em bom português, “in the flesh”. Esse CD “Days May Come and Days May Go” traz parte dos ensaios de junho de 1975 numa espécie de gigante armazém transformado em estúdio. É legal (a) ouvir o Mark IV inteiro, tocando a valer, Bolin, Coverdale, Hughes, Lord, Paice; (b) ouvir David Coverdale improvisando vocais nas diversas faixas, mesmo sobre improváveis jams, de maneira que o vocalista não fica só observando e ouvindo o som dos demais.

Duas das faixas são bem conhecidas, pois vieram a ser gravadas no “Come Taste the Band”: o disco abre com “Owed to G” que é a parte instrumental que segue a “This Time Around”. É basicamente igual à versão que logo a seguir foi registrada em estúdio. A outra é uma versão de “Drifter”, com letra diferente, mas o instrumental também é praticamente todo igual ao do disco que foi lançado no mesmo ano. Antes desta, porém, há um “Drifter (rehearsal sequence)” no qual se ouvem Glenn Hughes, Coverdale e Bolin ensaiando melodias para o vocal. Além destas, consta uma longa jam sobre os conhecidos versos “Dance to the Rock´n´Roll”, e é agora que não entendo mesmo porque isso não virou música no álbum do Mark IV. Afinal, o refrão e o riff principal estão ali, só faltam uns versos, e isso é muito fácil de encaixar; posso pensar em uns acordes, ao estilo “Burn”, por exemplo, sobre os quais seriam cantados os versos, mantendo-se o mesmo andamento na bateria. Acredito que seria uma das melhores do disco, e engrandeceria ainda mais a obra.

“IF You Love Me Woman” é uma jam funky sobre a qual Coverdale canta o título várias vezes e, como em tantas outras, acrescenta os tradicionais “woman, woman” e “baby, baby”, e “need your Love”.

“The Orange Juice Song” tem pouco mais de 3min e é muito legal; trata-se de uma comovente balada ao estilo “Mistreated”, com Coverdale murmurando sentimento numa letra improvisada, sobre uns acordes providenciados pelo Hammond de Lord. Ao final, o tecladista executa a melodia do “Concerto de Aranjuez”, e eis a sacada genial com o título da faixa.

“I Got Nothing For You” e “The Last of the Long Jams” são jams com duração aproximada de 10min, com solos, improvisações de vocais, etc. Aqui, como nas demais, percebe-se o quanto Ian Paice se empenha em criar levadas de bateria, com rolos e tudo mais, e é legal notar o quanto o lendário baterista levava a sério aqueles ensaios – o cara toca pra valer, não está guardando nada. Há ainda espaço para um cover de blues, “Statesboro Blues”.

Acreditava que nessas jams todas encontraria riffs, melodias e partes de músicas que compuseram o “Come Taste the Band”. No entanto, com exceção das já mencionadas, a parte significativa desses ensaios não saiu

Se não é um registro indispensável ou uma demonstração do brilhantismo dos caras na arte da improvisação, é certo que vale como documento adicional do curto período no qual vigorou o Mark IV. No encarte do CD há esclarecimento de que ali constam os melhores momentos dos ensaios, e que haveria um material extra que seria vendido pelo site para os fãs ardorosos e completistas. Entretanto, vejo no Wikipédia que há um “1420 Beachwood Drive: The 1975 Rehearsals, volume 2”, no qual o track list seria “Drifter (version 2)”, “Sail Away riff”, “You Keep on Moving (take 1)”, “Pirate Blues (jam)” e “Say You Love Me”. No mínimo gostaria de ouvir esse take 1 de “You Keep on Moving”.

segunda-feira, 15 de março de 2010

CDs do Kiss - Parte XIX "Kiss Unplugged" (1996)


1996 foi um ano bom para ser fã do Kiss. A banda recém havia terminado várias sequencias de shows em diversos países (inclusive o Brasil em 1994), e se encontrava em um bom momento. Entre 1995/1996, os caras se dedicaram a comparecer às convenções de fãs do Kiss, nos EUA e na Austrália, e se apresentaram tocando músicas de todo o seu repertório em formato acústico. Essa iniciativa foi muito bem sucedida. Só não sei se isso levou ao “MTV Unplugged” ou se por causa do “MTV Unplugged” a banda resolveu praticar nas convenções. Acredito, talvez ingenuamente, que Gene e Paul queriam participar do “MTV Unplugged”, e resolveram tocar suas músicas de forma acústica nessas convenções. A partir do contato com a emissora, elegeram as mais pedidas ou melhor tocadas e agilizaram a participação na famigerada série de programas “Unplugged”. Para agregar uma espécie de atrativo bônus, resolveram chamar Peter Criss e Ace Frehley, da formação original, para tocar em algumas faixas, uma vez que (a) Peter Criss participou com sucesso de uma convenção cantando “Hard Luck Woman”, e (b) desde sempre houve o clamor popular pela volta da formação original. Então se materializou um programa que deu origem a um DVD e a um CD espetaculares.

Lembro que a MTV local anunciou bastante a transmissão do programa do acústico do Kiss. E na data noticiada (uma sexta-feira de maio, acredito) me pus em frente à TV com o videocassete ligado para gravar o evento. Se antes disso ficava imaginando que tipo de repertório seria apresentado (o Giulia e eu achávamos que algumas músicas eram certas, como “Forever”), muito me surpreendeu que os caras abriram com “Comin´ Home” – que na época não conhecia – e ainda incluíram outras para mim inéditas (“Goin´ Blind”, “See You Tonite”), e ainda outras bastante obscuras e inesperadas (“Plaster Caster”, “Sure Know Something”, “A World Without Heroes”). Em todo o caso, agradou-me bastante essa eleição de faixas representativas de grande parte da discografia da banda (só ficou de fora os discos sem máscara dos anos 1980). E não há como negar que a banda estava no auge da forma e que a execução das músicas foi perfeita.

Atribuo o resultado excelente do disco ao entrosamento da formação Stanley/Simmons/Kulick/Singer. Bruce fez um trabalho espetacular, tanto na guitarra base como nos solos precisos (até o solo de “Domino”, bem complicado, ficou igual ao original de estúdio). Eric também estava em noite inspirada, como de costume (o cara sempre tocava bem nessa época – mais recentemente é que resolveu optar por levadas de bateria mais simples e pedestres). Não bastasse isso, Gene e Paul estavam com excelentes vozes (o mesmo não se pode dizer hoje em dia, quase 15 anos depois). Peter e Ace tocam com a banda em dois momentos: o primeiro, acompanhados apenas de Gene e Paul, promovendo uma reunião da formação original, para tocar “2000 Man” e “Beth”, e o segundo, com a formação atual (Bruce e Eric incluídos), para executar “Nothin´ To Lose” e “Rock and Roll All Nite” (três violões e duas baterias, sendo que Eric fez os vocais principais na primeira).

Pelo formato acústico, esse disco é um dos poucos da discografia da banda que posso emprestar ou presentear sem susto e independentemente do gosto musical do destinatário do empréstimo ou do presente. Particularmente, não consegui esperar pelo lançamento do CD em versão nacional, e assim adquiri o importado na CD Express em maio/junho de 1996. O DVD foi disponibilizado por algum tempo, mas achei que era inoportuno comprá-lo, pois já tinha gravado em VHS com boa qualidade. Durante muitos anos esse DVD desapareceu das prateleiras, e voltou agora somente com o volume 3 do Kissology, dessa vez na íntegra (incluindo todo o show – com direito a erros e repetições e músicas excluídas).

A partir do sucesso desse “MTV Unplugged”, sobretudo pelo reaparecimento da formação original, Gene e Paul não resistiram e tomaram duas medidas: (a) engavetar o “Carnival of Souls”, que já havia sido anunciado como o novo disco de material inédito com Bruce e Eric; e (b) retomar a formação original e embarcar numa turnê mundial, registrando, ainda, um novo CD com músicas inéditas (que veio a ser o “Psycho Circus”).

domingo, 14 de março de 2010

Ensaio The Osmar Band - "Einunddreissig" 09.03.2010

Particularmente acredito que era o mais ansioso pelo retorno das atividades da Osmar Band. Afinal, havia motivos de sobra, além da criativa produção musical e da costumeira parceria: no caso, o arsenal de equipamentos tinha um qualificado acréscimo. Acima de tudo queria conferir a performance da Fender Stratocaster Am Std para além dos headphones. Além disso, estão mais fortes as vozes de fora que clamam por uma apresentação da banda, e estamos começando a pensar em como concretizar essa ideia e anseio. O primeiro passo foi fácil, que é a eleição do set list; a parte difícil é limitá-lo a umas 10 músicas ou 45min. Discute-se, agora, onde seria o palco, e aí não faltam motivos para as brincadeiras. Então, nesse ensaio, nos concentramos no set list e revisitar as principais composições, entendendo-se estas como as que se encontram já basicamente formatadas e conhecidas por todos nós. Acredito que em breve retomaremos algumas das antigas, nem que seja para descartar definitivamente. De modo geral, as músicas saíram bem, apesar do recesso de mais de um mês (os caras tiveram oportunidade para ensaiar nas minhas férias, mas o fizeram em formato acústico devido ao calor ensurdecedor do início de fevereiro). Particularmente gostei bastante daquela com sotaque do centro do país, sobretudo pelo meu solo de guitarra pois tive segurança para acertar as notas (a primeira versão, não gravada, ficou melhor e mais espontânea e com melhores licks que a segunda, gravada). O ponto alto foram os 10min daquela com uma sequência memorável de acordes a partir do Am, na qual o Alemão emprega um timbre magnífico no Triton, e que lembra o som da tela inicial do site oficial do Jean Michel Jarre. Quanto à Fender, levou-me um par de músicas para acertar o timbre adequado no PODxt: utilizei a reprodução do amplificador Hiwatt utilizado por David Gilmour, e funcionou tanto no canal limpo como com a agregação do Fuzz quando queria um pouco de distorção. Todos foram unânimes em saudar o timbre novo dos captadores simples, que diferem bastante dos captadores duplos da Gibson Les Paul. Aparentemente a Fender levou vantagem nas preferências, mas não estou certo se as opiniões não mudariam se a Gibson fosse manejada nas mesmas condições – lembro de que é mais ou menos como experimentar colchão: gostamos do 1.º, experimentamos um outro e achamos bom também, até que voltamos para o original e aí sim tomamos a opinião definitiva. Enfim, também com os mp3 podem-se avaliar as performances e os diferentes timbres.



















quinta-feira, 11 de março de 2010

Discografia Deep Purple – Parte XIV “Perfect Strangers” (1984)

Após sair do Deep Purple em 1975, Ritchie Blackmore formou o Rainbow com Ronnie James Dio e manteve a excelência de composições de hard rock e de apresentações incendiárias. O guitarrista, entretanto, não é do tipo “easy going”, e assim o Rainbow teve diversas formações e passou por distintas fases musicais até chegar a 1984. Blackmore e Roger Glover receberam proposta para reunir a formação clássica do Deep Purple – o Mark II – e assim, junto com Jon Lord, Ian Paice e Ian Gillan, a banda gravou um grande disco e saiu para uma exitosa turnê.

“Perfect Strangers” ouvi emprestado por alguém – ou alugado – no final dos anos 1990 ou início dos anos 2000, e desde logo percebi que se trata de um disco melhor do que poderia esperar caso só conhecesse a faixa-título. É fato que “Perfect Strangers” é a música mais conhecida desse disco, além de ser a mais frequentemente eleita para cover pelas mais diversas bandas, desde o Dream Theater até a Burnin´ Boat. Trata-se de uma excelente música do Deep Purple, mas não é das minhas favoritas e nem é divertida de tocar. Veja-se que grande parte do material do Deep Purple e do Rainbow é muito divertido de tocar na guitarra, pelas linhas marcantes de Blackmore. Não é o caso de “Perfect Strangers”, que se centra bastante nos versos nos quais são tocados apenas os Power chords C-D e F-G por várias vezes. A melhor parte é um riff tocado após o 2.º refrão e antes do último verso – em A - e depois do último refrão até o final – em E - por guitarra, baixo e teclado, com um último compasso maior que os outros.

Mas o álbum tem outras composições com momentos legais. “Knocking At Your Back Door” tem cara de single, com um riff bom de teclado e guitarra, além de um refrão radiofônico. Destaque para a introdução de Jon Lord, que confere uma atmosfera sombria para se resolver no riff faceiro.

“Under the Gun”, “Nobody´s Home” e “Mean Streak” seguem como três faixas boas de hard rock típico do Rainbow. O riff de “Nobody´s Home” é nas mesmas posições de “Lay Down Stay Down” da época do “Burn”, de 1974, só que é de execução mais divertida e mais desafiadora. E “Mean Streak” tem trechos instrumentais com utilização das famosas escalas menor harmônica ou menor melódica cujo manuseio deram fama a Yngwie Malmsteen (Blackmore empregava bastante essas escalas no Rainbow, embora já fossem ouvidas em “Stormbringer” e nas apresentações ao vivo do Mark III). Essas escalas voltam no riff de “Hungry Daze”, que é muito legal de tocar na guitarra e são o tipo de “ear candy” muito boas de ouvir.

“A Gypsy´s Kiss” é outra faixa acelerada, sendo que o destaque são as várias partes instrumentais com sugestão erudita inspirada em Bach nos duetos de Blackmore e Lord, altamente sofisticados; “Wasted Sunsets”, por outro lado, é uma balada arrastada, e aqui fica mais evidente que Ian Gillan não tem mais a voz magnífica dos anos 1970 – a interpretação não é tão arrebatada e arrebatadora quanto deveria ser (como em “Child in Time”, por exemplo). Blackmore compensa com um solo cheio de feeling para os seus padrões.

O CD ainda conta com duas faixas bônus: “Not Responsible” e “Son of Alerik”. A primeira é muito boa e se encaixa perfeitamente no estilo do álbum. Já a segunda é um longo instrumental, no qual Blackmore e Lord trocam solos por 10min.

“Perfect Strangers” é um álbum que se alinha entre os melhores do Mark II, e esse feito não foi repetido nos discos posteriores até a saída definitiva de Ritchie Blackmore em 1993.

Mesmo com a disponibilização do CD de fabricação nacional, demorei vários anos para me decidir pela sua aquisição, pois achava que o preço não era convidativo (aproximadamente 25pila). Resolvi adquiri-lo apenas quando a Saraiva fez uma promoção no Dia do Rock de 2007 ou 2008, mas me enganei e o disco não estava na promoção, então paguei o preço que repudiara anteriormente (agora na mesma loja se encontra o álbum por 16 pila, ou menos se forem comprados 3CDs ou mais).

quarta-feira, 10 de março de 2010

Discografia Deep Purple – Parte XIII “In Concert – King Biscuit Flower Hour” (1995 - bootleg)

Até onde sei, “King Biscuit Flower Hour” é um programa de rádio dos EUA no qual eram transmitidas apresentações ao vivo de bandas de rock, muitas das quais foram lançadas em CD. Numa loja da Gal. Chaves (a excelente Porto Alegre CDs que ficava no 2.º andar, depois mudou-se para o térreo, e há um lustro aproximadamente mudou de dono e de foco) encontrei essa preciosidade, com o registro de uma apresentação do Mark IV. A qualidade da gravação é excelente, e mostra um show de fevereiro de 1976 em Long Beach.

Nenhuma novidade em dizer que o estilo de Tommy Bolin é completamente do de Ritchie Blackmore. Então não há surpresa no fato de que Bolin toca ao seu jeito as músicas antigas do Deep Purple, e “tocar a seu jeito” significa muitas vezes “tocar de qualquer jeito” os riffs de músicas como “Burn” ou “Smoke on the Water”, sendo que nos solos as diferenças ficam ainda mais marcantes (é certo que Blackmore improvisa muito os solos, e nem ele costumava executá-los da mesma forma que em estúdio, mas alguns solos são definitivos, como o de “Highway Star”). Então músicas como “Burn”, “Smoke on the Water”, “Stormbringer” e “Highway Star” ficam marcadas pelo timbre único de Bolin e uma execução meio bagunçada em alguns momentos. De outro lado, no entanto, é legal ouvi-lo tocando “Lazy” (o riff é executado praticamente igual, mudando apenas algumas notas nas partes mais rápidas – o riff é bem trabalhado e trabalhoso), e mais legal ouvir Glenn Hughes e David Coverdale cantando alternadamente os versos.

As melhores faixas de “Come Taste the Band” foram eleitas para o set list: “Lady Luck”, “Gettin´ Tighter” (encompridada com uma jam que inclui a parte “Dance to the Rock´n´roll”), “Love Child”, “This Time Around” – faltou “You Keep on Moving”.

Aqui localizei a origem da fenomenal performance de Glenn Hughes no final de “Smoke on the Water” cantando “Georgia On My Mind”, a qual ouvi pela primeira vez, com qualidade sonora inferior, no bootleg “Live Storm I & II).

"This Time Around" é dedicada por Hughes a Steve Wonder, e a passagem para "Owed to G" é perfeita. Tommy Bolin, então, assume o centro do palco e conduz uma barulheira por 10min. Ao final de "Stormbringer" a banda engata em mais uma jam funky. Há espaço para interpolar "Not Fade Away" em "Highway Star". O segundo disco abre espaço para músicas de outra apresentação, de janeiro em Springfield/Mass. Os caras tocam "Goin´ Down" antes de "Highway Star", e uma versão melhorada de "Smoke on the Water" (Bolin para de tocar pouco antes de entrarem os versos, provavelmente por ter arrebentado a corda, ou algum problema com o cabo, e achei muito legal ouvir só vocal, baixo, teclado e bateria). O momento de Hughes em "Georgia On My Mind" é repetido, mas não tão quanto do outro show (que foi muito melhor), embora o cara alcance os agudos arrepiantes.

terça-feira, 9 de março de 2010

Discografia Deep Purple – Parte XII “Live Storm I & II” (1996)

Há quase 15 anos atrás a Colombo do Praia de Belas também vendia CDs, muitos dos quais de excelente qualidade. Encontrei um bootleg do Deep Purple com registros de diferentes épocas, mas o que valia a pena era o segundo disco desse CD duplo “Live Storm I & II”. O primeiro disco era dedicado ao Mark II, então, conforme o encarte desse bootleg de um selo italiano, o trak list contém faixas de demos de 1970 (“Speed King”, “Child in Time” e “Black Night”) – sendo certo que se pode cogitar de que se tratam das versões originais de estúdio com um som muito ruim -, e registros de uma “US Tour 1972” (“Strange Kind of Woman”, “Smoke on the Water” e “Space Trucking”) – e aqui não há nada de novo. O ouro está no segundo disco, com uma “US Tour 1976”, no qual há parte do repertório de apresentação do Mark IV, i. é, com Tommy Bolin na guitarra e algumas faixas do “Come Taste the Band”. Não há discussão que (a) Tommy Bolin é um excelente guitarrista, e que (b) o estilo de Bolin é completamente diferente do de Ritchie Blackmore, então concluo, pela audição de vários registros do Mark IV, que Bolin não toca adequadamente as faixas da época de Blackmore, embora seja muito bom quando toca o repertório do “Come Taste the Band”. Assim, as versões de “Burn”, “Smoke on the Water” e “Highway Star” são confusas e muito fracas em termos de guitarra, com Bolin atrasando frequentemente a entrada dos riffs principais e executando solos genéricos e superficiais. Melhor ouvi-lo – e o restante da banda – em “This Time Around/Owed to G”, “Lady Luck” (ficou bem legal ao vivo), “Wild Dogs” (essa é uma de Bolin, cantada pelo próprio, e que ficou massa), além de “I Need Love”. “Woman From Tokyo” que aparece no track list é apenas executada brevemente por Jon Lord. Os meus destaques particulares ficam por conta da comovente interpretação de “Soldier of Fortune” com David Coverdale (acompanhado por Lord, Glenn Hughes e Ian Paice nos respectivos instrumentos) e, acima de tudo, o adendo que seguiu a “Smoke on the Water”. Desde o California Jam que se via que ao final de “Smoke on the Water” a banda fazia alguma jam na qual se destacava o vocal de Glenn Hughes. Pois no caso desse bootleg encontrei a melhor jam que já ouvi nesse contexto, bem como os vocais mais excepcionais e magníficos (não encontro outros adjetivos) de Glenn Hughes: o cara simplesmente canta “Georgia on My Mind” com os vocais mais altos e impossíveis de alcançar que ouvi, e lembro de ouvir repetidamente esse trecho, maravilhado pelo alcance e a interpretação de Hughes, não por acaso, “the voice of rock”. Nunca encontrei vídeos com performances desse jeito, então vale a pena localizar esse bootleg e ouvir Glenn Hughes cantando como nunca no auge de sua forma musical.

domingo, 7 de março de 2010

CDs do Kiss - Parte XVIII "Lick It Up" (1983)


Sobre “Lick It Up” já dediquei uma resenha nos primeiros tempos deste blog, e não tenho maiores reparos a fazer, a não ser lembrar que ouvi pela primeira vez o disco quando o Giuliano trouxe uma fita k7 com a gravação do vinil que ele havia obtido por empréstimo com uma vizinha, tudo isso no longínquo verão de 1996. O CD comprei na The Wall que funcionava no Iguatemi, em 1997, quando resolvi adquirir todos os CDs do Kiss. Além disso, localizei vídeos no youtube com aulas de Vinnie Vincent nas quais demonstra uma técnica peculiar e que me pareceu inacreditável: o guitarrista utiliza-se de uma espécie de “chicken picking”, que consiste em tocar com a palheta e com os demais dedos da mão direita (ao invés de só com a palheta, como ocorre via de regra com guitarristas de rock, ou só com os dedos – “fingerstyle” – como os estudiosos do violão clássico; a técnica do “chicken picking” é mais comum entre músicos de country dos EUA, para tocar em banjo, e é uma das mais difíceis de aplicar na guitarra). Só que Vinnie toca licks rapidíssimos com as palhetas e com os dedos utilizando-se dessa técnica, e isso explica o timbre dos solos do cara: as notas não soam limpas e definidas, e sim uma debulhação em alta velocidade, mas respeitei muito o cara por empregar uma técnica tão complicada. E confesso que assisti várias vezes aos vídeos pois não acreditava no que estava vendo (não por acaso Vinnie se julgava maior que os outros guitarristas, e essa megalomania é que deve ter prejudicado sua carreira – quando formou o Vinnie Vincent Invasion, sua banda de apoio abandonou-o para ter mais sucesso sob o nome de Slaughter).

"LICK IT UP é de 1983 e inaugurou uma nova fase na história do KISS. No seu lançamento a banda promoveu a retirada das características máscaras (transmitida pela MTV). Além disso, 2 vídeos promocionais foram produzidos, e bastante veiculados na emissora americana. Toda essa estratégia restou bem sucedida: o álbum vendeu bem, e a banda começou a retomar o seu espaço dentre as grandes bandas da época.

Afora isso, musicalmente o disco é muito bom. Pode-se dizer que é uma continuação do álbum anterior (CREATURES OF THE NIGHT). Segue a tendência de músicas pesadas, onde só há espaço para os instrumentos: guitarras, baixo e bateria. Não há nenhuma extravagância (v.g., uso de orquestras), e as composições são simples e eficientes – não há grandes invenções, mas as músicas funcionam e dentro da simplicidade foram muito bem construídas. Entendo que Vinnie Vincent teve papel fundamental para sedimentar esse som mais orgânico (especialmente pelo fato de ter co-composto quase todas as faixas). Pode-se dizer qualquer coisa sobre Vinnie, mas é inegável que se trata de um grande músico. A produção, mais uma vez a cargo de Michael James Jackson, leva ao extremo essa simplicidade – parece mais uma demo ajeitada. Ainda aqui, as guitarras foram prejudicadas com a mixagem. Mas tudo isso não tira a grande qualidade de LICK IT UP: é um grande disco de rock (hard rock), com boas músicas.

EXCITER é uma ótima música de Paul Stanley, construída com várias partes: há uma introdução, o riff principal, o verso, pre-chorus (ou bridge) e refrão. Há um interlúdio antes do solo. O guitarrista que gravou o solo não se sabe com certeza – vi em alguns lugares por aí que foi Rick Derringer; mas não vejo como não ter sido o próprio Vinnie. Muito boa música; é uma de minhas preferidas.

NOT FOR THE INNOCENT é mais contida, no estilo SAINT AND SINNER do álbum antecessor. Música de Gene Simmons, com boa letra. Aqui começa a aparecer com veemência o estilo shred de Vinnie Vincent no solo, com o uso abusivo muitas notas tocadas rapidamente.

A faixa-título é o grande hit do disco, e ajudou a promovê-lo bastante. Não basta toda a campanha de marketing para ressuscitar a banda – o disco tem que ter pelo menos um sucesso comercial. Essa música inicia uma série de hits patrocinada por Paul Stanley (até aquela época, os 2 grandes hits da banda – ROCK AND ROLL ALL NITE e I LOVE IT LOUD – eram composições de Gene). E o empenho de Paul foi recompensado – a música é boa, tem um marcante riff principal que é repetido no refrão. Seria esperado um solo de Vinnie, mas tudo indica que Paul não achou conveniente. Há também um interlúdio, ao que parece, contribuição de Adam Mitchell (não creditada).

YOUNG AND WASTED é uma das melhores músicas de Gene. Durante algum tempo, Eric Carr encarregou-se dos vocais nas apresentações ao vivo. O solo de Vinnie é bem feito e pertinente – ao final, funde-se com o pre-chorus cantado por Gene, criando um efeito que não é nada inovador, mas funciona muito bem. No final, o refrão é repetido várias vezes, mas a banda faz umas paradas bem interessantes quebrando a monotonia que esse recurso (repetir várias vezes o refrão no final da música) geralmente proporciona.

GIMME MORE é uma música acelerada, ao estilo do que Paul costuma fazer em boa parte dos discos da banda (ver, entre outras, DANGER, I STOLE YOUR LOVE, UNDER THE GUN). O vocal já mostra indícios do que seria uma constante nas músicas de Paul – vocais bem agudos (high-pitch).

ALL HELL´S BREAKIN´ LOOSE traz uma colaboração escassa de Eric Carr (o riff principal). É também uma das únicas músicas em que todos os 4 integrantes são creditados compositores. Paul, Gene e Vinnie transfiguraram bastante a idéia inicial de Eric, sendo que o primeiro canta os versos em forma de rap. Mas a música é boa (teve um vídeo promocional hilário), um momento mais leve do disco.

A MILLION TO ONE é uma brillhante composição de Paul & Vinnie. Aqui Eric reina absoluto na bateria – realmente, um grande destaque. A música é toda simples – o riff principal (que funciona também como refrão) chega a ser banal – mas a interpretação de Paul no vocal, e de todos os demais, engrandece a faixa. Vinnie, particularmente, consegue registrar o melhor solo do disco.

As 3 últimas músicas (FITS LIKE A GLOVE, DANCE ALL OVER YOUR FACE e AND ON THE 8TH DAY) são de Gene – a última em colaboração com Vinnie. FITS... segue a linha de YOUNG AND WASTED – tem um bom riff, e no final tem aquelas paradas interessantes. Durante boa parte dos anos 80 fez parte do repertório ao vivo da banda. DANCE é a música mais fraca do disco – destaque para a letra de Gene. A última faixa é imbuida de um tom ufanista, que a banda volta e meia repete (v.g., I, CRAZY CRAZY NIGHTS, PSYCHO CIRCUS, WE ARE ONE), e isso é resumido pelo refrão “And on the 8th day/God created rock´n´roll). A música começa muito bem, mas perde-se depois com a excessiva repetição dessa mensagem ufanista.

Concluindo: LICK IT UP é um grande disco, como o fora CREATURES OF THE NIGHT, mas que dessa vez contou com uma boa estratégia quando do seu lançamento. Considero esses dois discos como gêmeos até – a única diferença entre ambos é que um tem máscaras na capa e o outro não - , mas CREATURES sofreu com a repugnância de público e crítica na época do lançamento. Questões musicais aparte, é também um marco – a partir dele a banda iria se identificar mais e mais com o hard rock praticado pelas bandas da época, num definhamento que viria a tornar o KISS apenas mais uma entre as hair metal band (como Motley Crue e Poison). Em LICK IT UP encontram-se também as últimas músicas realmente decentes compostas por Gene (que só viria a compor boas músicas novamente 10 anos mais tarde)".

quinta-feira, 4 de março de 2010

Discografia Deep Purple – Parte XI “Come Taste the Band” (1975)

Diferentemente do que Jon Lord pensava, David Coverdale entendia que a saída de Ritchie Blackmore para formar o Rainbow não acarretava, necessariamente, o encerramento das atividades do Deep Purple. É fácil se colocar no lugar de Lord e pensar “quem fará os riffs de guitarra?”. Coverdale convenceu o tecladista de que há vida após Blackmore e a banda chamou Tommy Bolin, conhecido guitarrista de jazz e blues (o cara tocou até com Billy Cobham, o que por si só já é um feito). Bolin era afinado com a orientação funky preconizada por Glenn Hughes e David Coverdale e bem recebida por Jon Lord e, sobretudo, Ian Paice. Entretanto há hard rock o suficiente para que “Come Taste the Band” se qualifique como um bom disco do Deep Purple. Tomei contato com esse disco só quando o adquiri ao localizá-lo na Boca do Disco, no início dos anos 2000, CD importado (evidentemente, não há notícias de CD de fabricação nacional), por aproximadamente 30pila (margem de erro de 5pila para mais ou para menos).

O disco começa como se fosse uma apresentação ao vivo: uma explosão com acorde de guitarra, baixo e teclados até ingressar efetivamente em “Comin´ Home”, um rock acelerado no qual o timbre bem característico da Fender Stratocaster de Bolin já se faz presente.

“Lady Luck” inicia com acordes mas é caracterizada pelo funk capitaneado pelo baixo de Hughes e a bateria de Paice, além dos excelentes vocais – e letra típica - de Coverdale (“She was a jukebox dancer, a blue eyed gypsy queen (...)”). A faixa não alcança 3min e é muito divertida de ouvir, com refrão marcante.

Outra que tem suingue é de Hughes, a clássica “Gettin´ Tighter”. Bolin é responsável pelo riff principal e pelo tema que é executado antes dos versos. Há espaço para um breve interlúdio instrumental com pequeno solo de guitarra.

Com um riff mais sóbrio, “Dealer” conta com uma parte com vocais de Bolin, que me parecem não funcionar aqui tão bem quanto em “Wild Dogs”, que é uma composição da carreira solo do guitarrista executada pelo Purple nos shows da turnê de “Come Taste the Band”. Desse mesmo tipo de riff é “Drifter”, não por acaso outra composta por Bolin/Coverdale.

Um belo riff de guitarra abre “Love Child”. A estrutura da faixa é simples, passa pouco dos 3min e a base instrumental dos versos é atípica do Deep Purple à época, vez que se cuidam apenas de Power chords em E com pausas longas entre os compassos. Posteriormente essa característica foi resgatada pela banda com o ingresso de Steve Morse (é só ouvir “Purpendicular”, “Abandon”, “Bananas” e “Rapture of the Deep”).

O álbum encerra com duas composições clássicas e majestosas, com interpretações marcantes de Glenn Hughes: “This Time Around/Owed to G” e “You Keep on Moving”. A primeira começa com piano e voz e é toda cantada por Hughes, com delicada e comovente interpretação vocal. A parte “Owed to G” é instrumental e foi composta por Bolin, e muda o clima da música para dar-lher maior peso. Por sua vez, “You Keep on Moving” é interpretada em maior parte em uníssono de Hughes e Coverdale, embora particularmente ache que ela fica muito melhor com vocais exclusivos de Hughes, como aparece no “Burning Japan Live” registrado na carreira solo do baixista/vocalista. A música é conduzida por um riff repetitivo no baixo baseado em B, desce para G, depois E, e volta para B. A parte “Dawn will soon be breaking, the day has just begun (...)” acredito que é em A e E.

Evidentemente que não é o tipo de disco para se ouvir pensando em Blackmore. “Come Taste the Band” deve ser curtido como o álbum que contém “You Keep on Moving”, “This Time Around” e “Gettin´ Tighter”, além de composições boas como “Lady Luck” e “Love Child”.

Após turnê de divulgação que durou menos que um semestre, a banda se dispersou. Cada integrante se entreteu com outras atividades musicais. Quem levou a pior foi Tommy Bolin: o cara não conseguiu conter seus vícios e em dezembro de 1976 foi fazer companhia a Jimi Hendrix entre os Guitar Gods. A banda só retornaria em 1984, na reunião do Mark II, com o grande álbum “Perfect Strangers”.

quarta-feira, 3 de março de 2010

Discografia Deep Purple – Parte X “Archive Alive!” (1996 - bootleg)

Procurei com entusiasmo os bootlegs com shows do Deep Purple, sobretudo os da época do Mark III, pois apesar do repertório com poucas músicas, o resultado era sempre imprevisível dadas as notáveis e notórias improvisações dos integrantes daquela formação. Esse “Archive Alive!” foi adquirido numa extinta loja de CDs do Praia de Belas, e o preço era o de um CD simples importado (30pila – localizei no Mercado Livre para venda por 110reais) apesar de se tratar de um CD duplo bootleg, então tratou-se de uma barbada. O registro é de alta qualidade, pois sabe-se que esse material foi a base do “Made in Europe”, com desvantagem para este (o som deste bootleg é melhor). Para diferenciar do que foi um lançamento oficial da gravadora, o bootleg contém registros das performances de Paris e Graz, e a vantagem é que reproduz com fidelidade o repertório daquelas apresentações. Então começa com “Burn” (não difere muito do "California Jam" e do próprio "Made in Europe"), segue com “Stormbringer" (também não difere muito do "Made in Europe"), “The Gypsy” (excelentes vocais em uníssono de Coverdale e Hughes, e assim a música ficou bem melhor que a versão de estúdio), “Lady Double Dealer” (até o início é igual ao "Made in Europe", mas há diferenças nos vocais - talvez seja o mesmo take, mas com overdubs de estúdio para o lançamento oficial - Coverdale e Hughes se alternam no "Lady Double Dealer, get out of my way", “Mistreated” (incrivelmente Blackmore erra grotescamente no mítico riff introdutório - a guitarra engasga, parece que não vai sair nada, mas enfim o cara consegue iniciar a música), “Smoke on the Water” (início com uma jam curta sobre o riff de "Lazy", e ao final momento para demonstração do alcance vocal de Glenn Hughes, com uns agudos fora do comum), “You Fool No One” (no show de Paris, Jon Lord toca "A Marselhesa" no solo introdutório, que segue com umas jams muito legais; depois do riff e na hora de tocar o acorde antes dos versos, Blackmore erra o acorde - o cara estava distraído nessa noite... no mais, solo de bateria e riff de "The Mule"), “Space Truckin” (Momento Lucky Strike é Jon Lord tocando o tema de "Assim Falou Zaratustra" - é por essas que é bom ouvir os shows dessa época. Além disso, várias jams inusitadas, incluída breve execução instrumental de "Child in Time", e outra "Dance to the Rock´n´roll", que não sei como não virou música do "Come Taste the Band", além de barulheiras infernais) e “Going Down/Highway Star”, além de versões adicionais de “Mistreated” (pequeno discurso de Hughes - "It´s a song about everyday life", e Blackmore executa as primeiras notas do hino nacional alemão - achei melhor essa versão) e de “You Fool No One” (introdução completa de Coverdale, apresentando todos os músicos, e Jon Lord executa um tema clássico de Mozart, e depois uma jam jocosa ao seu estilo na época - essa versão também ficou melhor que a outra disponível neste bootleg, com solo de Blackmore ao invés do solo de bateria de Ian Paice).

terça-feira, 2 de março de 2010

Discografia Deep Purple – Parte IX “Made in Europe” (1976)

Em 1976 Ritchie Blackmore já havia abandonado o Deep Purple, tendo sido substituído por Tommy Bolin, sendo que um disco de músicas inéditas com essa formação, o Mark IV, foi lançado naquele ano (“Come Taste the Band”). Entretanto, ainda havia espaço para a gravadora capitalizar com o Mark III e assim foi lançado um álbum ao vivo com algumas das últimas performances do lendário guitarrista com o Purple (Graz, Saarbrücken e Paris, em 1975 – diz-se que a maior parte do material de “Made in Europe” teve como base o show na cidade alemã). Essas últimas apresentações em 1975 são excelentes e foram ensejadas pela turnê do “Stormbringer”. Nessas condições, o repertório de “Made in Europe” foi composto de cinco faixas extraídas dos álbuns “Burn” e “Stormbringer”. Ouvi esse disco pela primeira vez em 1995 (aluguei na extinta Symphony, que ficava na R. José Bonifácio), quando resolvi superar meu preconceito contra o David Coverdale (achava que ele era um fraco imitador do Robert Plant com uma banda de hard rock farofa, o Whitesnake – posteriormente virei fã incondicional tanto de Coverdale quanto do Whitesnake). Já tinha assistido ao documentário “Heavy Metal Pioneers”, então mesmo sem saber já estava familiarizado com o riff de “Burn”. E soube que “Made in Europe” se tratava de um disco magnífico quando ouvi o riff de “Burn” e “associei o nome à pessoa”. Essa versão ao vivo é mais agressiva e dinâmica que a versão de estúdio (que já era espetacular), sobretudo quanto à bateria de Ian Paice. Blackmore faz uns gracejos nas várias partes que o riff é executado, notadamente antes e depois dos solos. O solo de guitara é bem diferente da de estúdio, como de costume, pois o cara costuma improvisar bastante nesses momentos. Pode-se questionar a escolha de uma música lenta como “Mistreated” após o início arrasa-quarteirão com “Burn”; o certo é que Coverdale manteve o nível da performance vocal, interpretando a comovente letra com a mesma dedicação da versão original. A banda se dedica a interpolar um cover de blues, “Rock Me Baby” após o que seria o final da música conforme a versão de estúdio. Basicamente, a banda toca alguns compassos com os acordes E-F#-B-A e Coverdale canta repetidamente “I want you to rock me baby, rock me all night long” ou “Roll me over (...)”, além dos “baby, baby, baby” e “woman, woman, woman”. A faixa mais curta é “Lady Double Dealer”, praticamente igual à versão de “Stormbringer”, com solos de Blackmore e de Jon Lord. Melhor que a original ficou “You Fool No One”: Jon Lord comandou uma introdução muito legal nos teclados, tocando uns temas divertidos como costumava fazer desde o “Made in Japan”, e sempre fui fã dessas improvisações (hoje em dia já estou com o ouvido cansado – afinal, esses trechos já estão no meu DNA – mas achei muito marcantes esses momentos nos quais os caras davam algo mais do que simplesmente reproduzir as músicas que estavam nos discos de estúdio). Além disso, há extensos solos e assim a faixa alcança quase 17min. Coverdale e Glenn Hughes mandam muito bem nos vocais em uníssono. O disco fecha com uma versão perfeita para “Stormbringer”. Particularmente, gosto bastante do Mark III, de maneira que esse registro é bastante especial. Não por acaso, fui atrás dos bootlegs que encontrei disponíveis no final dos anos 1990 para ouvir o tanto quanto fosse possível da época em que David Coverdale e Glenn Hughes dividiam vocais no Deep Purple. Adquiri o CD, usado, provavelmente na Boca do Disco, no final dos anos 1990.

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