quarta-feira, 17 de março de 2010

Shows XXX - Dream Theater (Porto Alegre, Pepsi on Stage, 16.03.2010, 22h)

Há 15 anos ouço Dream Theater e já tive oportunidade, aqui, para discorrer sobre a discografia da banda, a qual tenho praticamente toda em casa (só me faltam um ou outro disco duplo ou triplo ao vivo). Nesses 30 shows que já assisti em Porto Alegre, acompanhei uma a uma grande parte das minhas bandas favoritas, e a lista das que restavam ia diminuindo. Desde sempre o Dream Theater ocupou o topo dessa lista, e apesar da banda já ter vindo umas 4 ou 5 vezes ao Brasil, sempre frustrou a expectativa de um show por aqui (os caras já tocaram em Curitiba, e depois Buenos Aires, que são as cidades mais perto). Pois, finalmente, o Dream Theater, ao anunciar a perna sul-americana da turnê do seu disco mais recente, "Black Clouds and Silver Linings", inseriu Porto Alegre na sua rota, em 16.03.2010. Finalmente, então, veria em casa uma das minhas bandas favoritas. E é por essa razão que não pensei duas vezes quando foi divulgado que o Guns´n´Roses, com Axl Rose e Cia, viria para a Capital no mesmo dia: vou no Dream Theater. Comprei ingresso no primeiro dia, ainda em dezembro, e aguardei o momento precioso.

O show do Guns, no entanto, foi tratado como o grande evento da noite. E não por acaso, a fila para comprar o ingresso da banda de Axl tinha 20 pessoas, e a fila do Dream Theater só tinha um cara, depois eu, e depois mais ninguém. Isso no primeiro dia de vendas. Nessas condições, com a simultaneidade de atrações, acreditava que o público do Dream Theater não seria tão expressivo. Além disso, conferi os set lists que a banda estava apresentando e fiquei pessimista: Mike Portnoy elegeu as músicas mais fracas dos discos mais fracos ("Sacrificed Sons" do "Octavarium", "Prophet of War" do "Systematic Chaos", "In the Name of God" do "Train of Thought", além de "The Count of Tuscanny" do "Black Clouds (..)". Independentemente disso, estava feliz simplesmente por ver a banda e me consolava o fato de que, eventualmente, assistindo os caras tocarem essas músicas ao vivo, poderia ver algum detalhe que me havia passado despercebido e, numa dessas, passar a curtir essas composições.

Seja como for, combinei com o Bruce/Valmor de se encontrar na entrada. O Barboza também se mobilizou para ir, além do Diego (Hibria). A produção local resolveu chamar Richard Powell para abrir os trabalhos, e Mike Portnoy foi o responsável por escolher uma desconhecida banda de Los Angeles, Big Elf, para acompanhar o Dream Theater nessa turnê latina. Assim, dirigi-me ao Pepsi on Stage às 19h e encontrei uma fila imensa, para minha surpresa. Parece-me que o local é apropriado para acomodar esse tipo de show, pelo acesso fácil e pelo estacionamento. No decorrer do dia soube da confirmação de que o Megadeth vai se apresentar por aqui, no mesmo Pepsi on Stage, em 26.04.2010, e não sei porque mas fiquei mais animado com a notícia de ver o Megadeth do que quando soube que o Metallica tocaria por aqui (na maior parte das vezes, curto mais o Metallica que o Megadeth, mas admito que é uma tarefa difícil dizer qual é a melhor banda). A minha lista de pendências realmente está diminuindo.

Foi muito fácil localizar o Bruce/Valmor, bem como o Diego. Um papo rápido porque a fila era grande. A minha era menor, mas estava parada. Uma vez lá dentro, conferi os produtos da "loja" e não me animei com as camisetas disponíveis. Ocupei o camarote que ficava à direita da mesa de som, de frente para onde ficaria o John Petrucci, e dali não mais saí pois suspeitei que se vacilasse perderia o lugar bom (um passo para o lado já ficava ruim, pois a visão era prejudicada pelos canhões de luz).

O Richard Powell fez um set curto, de umas 3 músicas, sendo que na quarta o cara mandou um cover de Van Halen, "You Really Got Me", que todos sabem que é um cover de Kinks. Provavelmente o cara estava nervoso pois errou muito na primeira música, mas pelo menos o cara teve o espírito esportivo de dizer o que devia ser dito: "também estou aqui para ver o Dream Theater, mas enquanto aguardamos, vou tocar umas músicas aí".

Uns 15min depois do fim do Powell, subiu ao palco a Big Elf ao som da marcha imperial de Star Wars. Os caras adotam visual anos 1960/1970 e o som de bandas dessa época, com riffs Black Sabbath (o guitarrista tinha uma bela Gibson SG), e sons de teclado Hammond, Mellotron e Moog, sem esquecer do baixo Rickenbacker. A primeira música foi muito boa, com umas guitarras bem legais. No resto a coisa ficou meio repetitiva, sobretudo porque já ouvimos todo esse som antes; a banda é boa, mas as referências são ouvidas o tempo todo, como bem enfatizou o Valmor/Bruce.

Pois bem, depois de mais de 30min de arrumação do palco, o Dream Theater finalmente abriu sua apresentação pouco depois das 22h. Como era esperado, os caras mandaram uma versão fidedigna de "A Nightmare to Remember". Acho os 5 primeiros minutos dessa faixa muito fracos: gosto de verdade dessa música, ao ponto de achar que se equipara com os grandes momentos da banda, a partir dos 5min, naqueles acordes com timbre limpo, pois há o melhor momento do disco respectivo ("Black Clouds (...)") no refrão "Beautiful agony" e tal. O vocal de James Labrie estava ruim no começo, mas não era culpa do cara e sim da equalização, acredito eu, pois não demorou e a voz estava perfeita para ser ouvida. Desde logo percebi que, verdadeiramente, o frontman da banda não é Labrie: não satisfeito em ser o melhor baterista de heavy metal e de rock progressivo (e, portanto, de metal progressivo), quem agita a galera é Portnoy, que se levanta da bateria e toca de pé algumas levadas mais básicas, pedindo a participação do público.







Havia uma esperança de que a próxima não fosse "A Rite of Passage". Afinal, o Dream Theater jamais se apresentou em Porto Alegre, e quando a banda visita uma cidade pela primeira vez, Portnoy costuma inserir no set list algumas das músicas mais clássicas para que os fãs vejam a banda tocar material importante mas que já foi executado exaustivamente em outras turnês. Entretanto, os caras mandaram "A Rite of Passage". Aí vem o fator "ao vivo": só vendo a banda "in the flesh" para reparar como funciona bem o refrão, que no disco achava bem metido a chiclete sem gosto. Além disso, achava anteriormente que um solo de Jordan Ruddess com um timbre esquisito era muito ruim, pois o som parecia com um sintetizador mal regulado, ou coisa do tipo. Pois esse solo é feito com o iPhone do tecladista, e aí é evidente que essa parte ficou muito legal: quem é que faz solo de teclado, num show de rock, com um iPhone?



Já sabíamos, a essas alturas, que não falaria a versão extendida de "Hollow Years". Particularmente, teria pensado em outra música do "Falling Into Infinity", mas de qualquer maneira foi muito legal ver a galera cantando a letra e o refrão com vontade, o que empolgou Labrie e os demais. Desprezei, no vídeo, o longo solo de guitarra introdutório de John Petrucci, para não ficar com um arquivo muito longo.



Do "Systematic Chaos" foi eleita "Constant Motion", que acredito ter funcionado perfeitamente por ser mais agitada (até então tinha expectativa negativa quanto ao número de músicas longas e lentas no set list).



Tudo indicava que Jordan Rudess faria seu solo de teclado e emendaria com "Prophet of War". No entanto, o cara mandou a introdução de "Erotomania", e a partir daí já sabia que o ingresso já tinha valido a pena, e também que o Valmor/Bruce teria perdido um baita show se não tivesse conseguido o ingresso com um contato qualificado. A banda inteira executou "Erotomania" sem esforço, e gostei bastante de ver o Rudess tocando quase todas as partes de quase todas as músicas com apenas uma mão (a direita ou a esquerda) e olhando para a galera, sobretudo nos refrões. "Erotomania" é a melhor música instrumental do Dream Theater e calhou perfeitamente nesse set list.





Sabe-se que no disco "Awake", após "Erotomania" vem "Voices" e nesse show não foi diferente. Os caras mandaram uma versão perfeita de "Voices" e foi aí que tive a prova de que os vocais de James Labrie estão em perfeita ordem e estado de conservação. Afinal, o cara desincumbiu-se plenamente da tarefa de recriar as melodias da versão de estúdio, embora não tenha me passado "in albis" o fato de que a música não foi executada na íntegra; ficou faltando aquela parte bem pesada e rápida (e legal), com uns versos "Death is sex, sex is death", e isso provavelmente se deve ao vocal mais alto nessa parte (ou Labrie não consegue cantar adequadamente, ou caso o faça perde a voz para o resto da noite). Independente disso, o momento "Erotomania/Voices" valeu o ingresso e foram momentos verdadeiramente emocionantes da noite.



Diferentemente da grande maioria dos presentes, não sou fã do disco "Scenes From a Memory". Provavelmente é uma deficiência minha, mas o fato é que não me abri para "The Spirit Carries On", apesar da boa melodia no refrão. Gravei com a Sony, mas não deu pra registrar tudo pois os comandos estão falhos.



A partir daí já não sabia exatamente o que ia rolar. Podia ser "In the Name of God", ou "Sacrified Sons". Acho que em nenhum show dessa turnê foi executada "As I Am". Pois apesar dessa não ser das minhas favoritas, acredito que foi uma baita sacada a inclusão dessa faixa pesada com refrão pegajoso e conhcido. Todo mundo curtiu bastante, e a execução foi primorosa, inclusive o complicadíssimo solo de guitarra de John Petrucci (o cara parece meio gordo, do tipo que vai explodir a qualquer momento, mas encontra-se numa incrível forma nas 6 cordas; acho que nenhuma música do show exigiu uma guitarra com 7 cordas, sendo certo, ainda, que não reparei nas trocas de guitarras - estas certamente aconteceram por causa das diferentes afinações, porém o modelo e a cor não variaram).



Na minha cabeça, qualquer coisa que viesse era lucro. Por um momento achei que os caras podiam emendar "This Dying Soul" ao final de "As I Am". No entanto, Petrucci trocou rapidamente a guitarra e já começou com "Pull Me Under", que é o maior clássico da banda. Aí já sabíamos que rolaria o medley "Pull Me Under/Metropolis Pt. 1", ambas do "Images and Words", e tivemos a confirmação da atenção que Portnoy dá às cidades que recebem pela primeira vez o Dream Theater. A banda toca "Pull Me Under", com perfeição, até o segundo refrão (melhor refrão do Dream Theater), e emenda com a parte instrumental insana de Metropolis Pt. 1. Lá pelas tantas, Petrucci e Rudess alternam solos de guitarra e teclado. O restante da parte instrumental é executada, e Labrie volta para cantar os versos finais. Convém enfatizar que Petrucci, antes da volta de Metropolis, executou as quatro primeiras notas do riff de "Sweet Child O´Mine", fazendo referência ao evento simultâneo na cidade; engraçado como todos identificaram a música com apenas quatro notas (e isso é prova de que se trata de um clássico do rock), seguindo-se uma grande vaia, e depois aplausos para Petrucci e para a banda, que provavelmente não esperavam uma reação negativa quanto ao Guns - fato é que a galera estava ali precisamente para ver o Dream Theater, e o público passou então a gritar o nome da banda e a aplaudir os integrantes, até que a música finalmente retomou. Labrie, na sua única manifestação para o público, brincou rapidamente com o fato.





Se eu já estava feliz por simplesmente vê-los ao vivo, mais ainda estava por tê-los visto tocar músicas do "Awake" e do "Images and Words" (quem sabe "A Change of Seasons" na próxima?). Uma breve despedida, e os caras voltaram para a última, "The Count of Tuscanny". Já tinha me programado que desceria para fazer fotos e vídeos nessa que não é das minhas favoritas. Pois tive a confirmação de que não é tão bom acompanhar o show da pista, e cheguei mesmo a me sentir baixinho no meio de tanta gente, o que é totalmente incomum para mim. Então filmei, tirei fotos, e bati um papo com o Barboza.



Não havia mais espaço para surpresas. "The Count of Tuscanny" é a última e fim de papo. Na saída, aguardando o Valmor/Bruce, consegui o contato com o grande Sávio, o melhor baterista que já vi tocar a uma distância de meio metro. Quem sabe dá pra agilizar um som pesado por aí. O Barboza passou e comentou que ainda dava pra ver o Guns... o Valmor disse o mesmo, de gozação, e parece que, efetivamente, dava pra assistir o Guns, pois a banda só entrou no palco às 1h50min, bem depois do final do show do Dream Theater (0h). Mas acho que não é necessário melhorar mais essa noite de Dream Theater. Aparentemente os caras curtiram a reação do público, e Labrie prometeu voltar. Portnoy falaria alguma coisa no microfone do Petrucci, mas o mesmo já havia sido desligado, e ficamos sem as últimas palavras do grande baterista.

Esse primeiro semestre de 2010 é o melhor da história de Porto Alegre: já vimos Metallica, hoje tivemos Dream Theater e Guns´n´Roses, e daqui a um mês teremos Megadeth.

12 comentários:

Franco Garibaldi disse...

ah, qquer coisa, nos falamos por mail (garibaldi@tj.rs.gov.br)

Franco Garibaldi disse...

Fala, meu velho! Tô a fim de ir nesse do Megadeth em abril! Vamos esquematizar alguma coisa para nos encontrarmos no dia! vou ver se mais alguém da serra vai (tô morando em Bento) e nos falamos!

vinícius disse...

porra meu. mas como a gente discorda um do outro! hauiehea

eu vi o show da pista lá de trás, uns 3 metros depois da casa de mixagem. eu tinha uma excelente vista geral do palco, sem nenhum aperto, e o som lá tava muito melhor que na frente.

mas apesar do repertório oscilante (voices com certeza foi o highlight) foi um showzaço.

Anônimo disse...

Boa Guiherme! Vi o show da pista mais ou menos do meio ao lado da torre. O som tava muito bom (graças ao bom publico)e achei o telao deles do caralho, as tomadas da bateria e as animaçoes.
Dificil dizer, mas acho que pra mim as melhores musicas foram "As I am" e "Erotomania". Gravei na camera "Spirit Carries on" inteira e ficou bala, assim que consiga vou botar no you tube..
Sobre o Megadeth nao sabia que ia ter show aqui, imperdível, irei certo!
Abraço
Luis Carlos
luis.criado@unimedpoa.com.br

Brechó Online disse...

A melhor "resenha" sobre o show que eu já li!
Hugs
marintheroad.blogspot.com

Brechó Online disse...

A melhor "resenha" sobre o show que eu já li.
Hugs
marintheroad.blogspot.com

vinícius disse...

ah, também quero deixar clara minha discordância a respeito do portnoy. acho justo ele ser o batera mais importante do metal progressivo, mas já faz alguns anos que virgil donati e gavin harrison mandam abraços no quesito técnica/inovação. já faz 5 discos que mike estacionou e se tornou altamente previsível. e hoje ele toca, mesmo, MUITO menos que o gavin harrison sozinho.

vinícius disse...

e (ainda), se tu tivesse filmado um pouco mais o final de metropolis, teria filmado eu acertando a camiseta branca no jordan. ahahahah

Guilherme disse...

Franco: vamos combinar esse Megadeth sim, tão logo disponibilizarem os ingressos já vou comprar o melhor possível. ZZ Top já é certo, e tão falando em Bon Jovi e Aerosmith (esses valem só pela farra).

Vinícius: até que ficaram bons os meus vídeos (na medida do possível do zoom da lente), não é? Problema de filmar da pista é ter que ficar com o braço erguido por uns 15min por música... se fosse só para assistir o show não tinha problema, onde quer que fosse. E alguém deve ter filmado tu acertando a camisa no Jordan. Viste que o cara se perdeu lá pela Ramiro? Acho que ele queria voltar para o hotel pela Cristóvão, e um cara catou ele na rua - e ganhou uma ceva.

Luis Carlos: manda ver essa "Spirit Carries On" pq não pude gravar inteira, e parece que foi uma das favoritas do público.

Mari: muito obrigado pela visita e pelo comentário gentil.

Valmor/Bruce: comenta alguma coisa aí!

Brechó Online disse...

Oi Guilherme, segue o link das fotos:

http://picasaweb.google.com/mariliadarolt/DreamTheaterPOA1603#

Vai...não sou uma excelente fotógrafa, mas dá pra guardar como recordação...hehe. Fiz dois vídeos do Petrucci tbem, esmirilhando...hehe
depois posso te mandar.
Ahh tbem sou da área jurídica, vou ler teus coments a respeito.

E que venha Megadeth!!
Abraços

Worldengine disse...

Pô, demorei!!!

O show teve sensação de montanha pra mim. Começou morno (essas músicas novas são bem chatas), e começou a empolgar ali no Hollow Years! Dali depois do "Erotomania" até a saída dos caras do palco foi só subida! "Count of Tuscany" foi meio chuveirada fria!

Sobre a polêmica Portnoy, sou do opinião: grande performer, carismático como poucos, porém em termos de importância criativa no mundo progressivo, está muito embaixo na lista. Mas acho que foi um opção dele, abraçou um novo público!

Savio Sordi disse...

Muito massa a resenha Guilherme! Um serviço cultural postado! Parabéns!

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