Diferentemente do que Jon Lord pensava, David Coverdale entendia que a saída de Ritchie Blackmore para formar o Rainbow não acarretava, necessariamente, o encerramento das atividades do Deep Purple. É fácil se colocar no lugar de Lord e pensar “quem fará os riffs de guitarra?”. Coverdale convenceu o tecladista de que há vida após Blackmore e a banda chamou Tommy Bolin, conhecido guitarrista de jazz e blues (o cara tocou até com Billy Cobham, o que por si só já é um feito). Bolin era afinado com a orientação funky preconizada por Glenn Hughes e David Coverdale e bem recebida por Jon Lord e, sobretudo, Ian Paice. Entretanto há hard rock o suficiente para que “Come Taste the Band” se qualifique como um bom disco do Deep Purple. Tomei contato com esse disco só quando o adquiri ao localizá-lo na Boca do Disco, no início dos anos 2000, CD importado (evidentemente, não há notícias de CD de fabricação nacional), por aproximadamente 30pila (margem de erro de 5pila para mais ou para menos).
O disco começa como se fosse uma apresentação ao vivo: uma explosão com acorde de guitarra, baixo e teclados até ingressar efetivamente em “Comin´ Home”, um rock acelerado no qual o timbre bem característico da Fender Stratocaster de Bolin já se faz presente.
“Lady Luck” inicia com acordes mas é caracterizada pelo funk capitaneado pelo baixo de Hughes e a bateria de Paice, além dos excelentes vocais – e letra típica - de Coverdale (“She was a jukebox dancer, a blue eyed gypsy queen (...)”). A faixa não alcança 3min e é muito divertida de ouvir, com refrão marcante.
Outra que tem suingue é de Hughes, a clássica “Gettin´ Tighter”. Bolin é responsável pelo riff principal e pelo tema que é executado antes dos versos. Há espaço para um breve interlúdio instrumental com pequeno solo de guitarra.
Com um riff mais sóbrio, “Dealer” conta com uma parte com vocais de Bolin, que me parecem não funcionar aqui tão bem quanto em “Wild Dogs”, que é uma composição da carreira solo do guitarrista executada pelo Purple nos shows da turnê de “Come Taste the Band”. Desse mesmo tipo de riff é “Drifter”, não por acaso outra composta por Bolin/Coverdale.
Um belo riff de guitarra abre “Love Child”. A estrutura da faixa é simples, passa pouco dos 3min e a base instrumental dos versos é atípica do Deep Purple à época, vez que se cuidam apenas de Power chords em E com pausas longas entre os compassos. Posteriormente essa característica foi resgatada pela banda com o ingresso de Steve Morse (é só ouvir “Purpendicular”, “Abandon”, “Bananas” e “Rapture of the Deep”).
O álbum encerra com duas composições clássicas e majestosas, com interpretações marcantes de Glenn Hughes: “This Time Around/Owed to G” e “You Keep on Moving”. A primeira começa com piano e voz e é toda cantada por Hughes, com delicada e comovente interpretação vocal. A parte “Owed to G” é instrumental e foi composta por Bolin, e muda o clima da música para dar-lher maior peso. Por sua vez, “You Keep on Moving” é interpretada em maior parte em uníssono de Hughes e Coverdale, embora particularmente ache que ela fica muito melhor com vocais exclusivos de Hughes, como aparece no “Burning Japan Live” registrado na carreira solo do baixista/vocalista. A música é conduzida por um riff repetitivo no baixo baseado em B, desce para G, depois E, e volta para B. A parte “Dawn will soon be breaking, the day has just begun (...)” acredito que é em A e E.
Evidentemente que não é o tipo de disco para se ouvir pensando em Blackmore. “Come Taste the Band” deve ser curtido como o álbum que contém “You Keep on Moving”, “This Time Around” e “Gettin´ Tighter”, além de composições boas como “Lady Luck” e “Love Child”.
Após turnê de divulgação que durou menos que um semestre, a banda se dispersou. Cada integrante se entreteu com outras atividades musicais. Quem levou a pior foi Tommy Bolin: o cara não conseguiu conter seus vícios e em dezembro de 1976 foi fazer companhia a Jimi Hendrix entre os Guitar Gods. A banda só retornaria em 1984, na reunião do Mark II, com o grande álbum “Perfect Strangers”.
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