Após sair do Deep Purple em 1975, Ritchie Blackmore formou o Rainbow com Ronnie James Dio e manteve a excelência de composições de hard rock e de apresentações incendiárias. O guitarrista, entretanto, não é do tipo “easy going”, e assim o Rainbow teve diversas formações e passou por distintas fases musicais até chegar a 1984. Blackmore e Roger Glover receberam proposta para reunir a formação clássica do Deep Purple – o Mark II – e assim, junto com Jon Lord, Ian Paice e Ian Gillan, a banda gravou um grande disco e saiu para uma exitosa turnê.
“Perfect Strangers” ouvi emprestado por alguém – ou alugado – no final dos anos 1990 ou início dos anos 2000, e desde logo percebi que se trata de um disco melhor do que poderia esperar caso só conhecesse a faixa-título. É fato que “Perfect Strangers” é a música mais conhecida desse disco, além de ser a mais frequentemente eleita para cover pelas mais diversas bandas, desde o Dream Theater até a Burnin´ Boat. Trata-se de uma excelente música do Deep Purple, mas não é das minhas favoritas e nem é divertida de tocar. Veja-se que grande parte do material do Deep Purple e do Rainbow é muito divertido de tocar na guitarra, pelas linhas marcantes de Blackmore. Não é o caso de “Perfect Strangers”, que se centra bastante nos versos nos quais são tocados apenas os Power chords C-D e F-G por várias vezes. A melhor parte é um riff tocado após o 2.º refrão e antes do último verso – em A - e depois do último refrão até o final – em E - por guitarra, baixo e teclado, com um último compasso maior que os outros.
Mas o álbum tem outras composições com momentos legais. “Knocking At Your Back Door” tem cara de single, com um riff bom de teclado e guitarra, além de um refrão radiofônico. Destaque para a introdução de Jon Lord, que confere uma atmosfera sombria para se resolver no riff faceiro.
“Under the Gun”, “Nobody´s Home” e “Mean Streak” seguem como três faixas boas de hard rock típico do Rainbow. O riff de “Nobody´s Home” é nas mesmas posições de “Lay Down Stay Down” da época do “Burn”, de 1974, só que é de execução mais divertida e mais desafiadora. E “Mean Streak” tem trechos instrumentais com utilização das famosas escalas menor harmônica ou menor melódica cujo manuseio deram fama a Yngwie Malmsteen (Blackmore empregava bastante essas escalas no Rainbow, embora já fossem ouvidas em “Stormbringer” e nas apresentações ao vivo do Mark III). Essas escalas voltam no riff de “Hungry Daze”, que é muito legal de tocar na guitarra e são o tipo de “ear candy” muito boas de ouvir.
“A Gypsy´s Kiss” é outra faixa acelerada, sendo que o destaque são as várias partes instrumentais com sugestão erudita inspirada em Bach nos duetos de Blackmore e Lord, altamente sofisticados; “Wasted Sunsets”, por outro lado, é uma balada arrastada, e aqui fica mais evidente que Ian Gillan não tem mais a voz magnífica dos anos 1970 – a interpretação não é tão arrebatada e arrebatadora quanto deveria ser (como em “Child in Time”, por exemplo). Blackmore compensa com um solo cheio de feeling para os seus padrões.
O CD ainda conta com duas faixas bônus: “Not Responsible” e “Son of Alerik”. A primeira é muito boa e se encaixa perfeitamente no estilo do álbum. Já a segunda é um longo instrumental, no qual Blackmore e Lord trocam solos por 10min.
“Perfect Strangers” é um álbum que se alinha entre os melhores do Mark II, e esse feito não foi repetido nos discos posteriores até a saída definitiva de Ritchie Blackmore em 1993.
Mesmo com a disponibilização do CD de fabricação nacional, demorei vários anos para me decidir pela sua aquisição, pois achava que o preço não era convidativo (aproximadamente 25pila). Resolvi adquiri-lo apenas quando a Saraiva fez uma promoção no Dia do Rock de 2007 ou 2008, mas me enganei e o disco não estava na promoção, então paguei o preço que repudiara anteriormente (agora na mesma loja se encontra o álbum por 16 pila, ou menos se forem comprados 3CDs ou mais).
Um comentário:
Lembro que eu estava em viagem de trabalho em Londrina, norte do Paraná, quando chegou às lojas o "Perfect Strangers". Um amigo londrinense, fanático por Deep Purple, me perguntou se eu já tinha visto o disco. Respondi que não e na primeira folga, corri até a antiga Mesbla, no centro de Londrina, onde comprei o cobiçado LP. Gosto muito desse disco!
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